Cara leitora ou caro leitor,

 

espero que você esteja bem. Tivemos um problema técnico este mês e, infelizmente, os dois textos que publicamos dias atrás (este e este) não foram enviados por e-mail. Solicitamos encarecidamente a leitura, considerando que eles trazem uma ótima notícia: a publicação de dois artigos científicos questionadores sobre o “modelo afirmativo de gênero” em particular e as políticas de “identidade de gênero” em geral. Nos queerizados tempos atuais, trata-se, sem falsa modéstia,  de uma façanha. Outras boas notícias são a reativação do nosso perfil do Instagram (que assume, progressivamente, uma aparência mais profissional) e o lançamento de mais um vídeo sobre destransição no nosso canal do Youtube (“destransição” é um dos assuntos mais pedidos por vocês).

O texto que traduzimos abaixo é sobre luto. Luto não pela morte física, mas pela perda de um filho ou filha para a indústria do “processo transexualizador”, liderada por profissionais que dizem aos pais, cinicamente: “você não perdeu um filho, ganhou uma filha” ou vice-versa. Ele foi escrito pela mãe de uma dessas jovens, a Lynn Meagher, e publicado no blog no blog dela, o “Gender Apostasy” (“Apostasia do Gênero”); a ilustração foi feita pela artista Bartleby, aludindo à “morte” dos meninos e rapazes rotulados como meninas e mulheres. “Apostasia” significa abandono de uma crença (religiosa, política, ideológica).

É isso que somos – apóstatas. Nós não fazemos parte da religião do “gênero”; nós não acreditamos em “identidades de gênero” – a versão do século 21 para ideias de centenas de anos atrás como “almas femininas” e “almas masculinas”. Nós não seguimos esses líderes nem seus livros sagrados e também não repetimos seus mantras. Nós sabemos que seres humanos não podem mudar de sexo e que o desconforto que podem experimentar com seus corpos não é sinal de uma “identidades de gênero” “incongruente” com seus corpos, “incongruência” essa a ser consertada com hormônios e cirurgias. Nós nos recusamos a aceitar que crianças e adolescentes tenham capacidade de compreender e consentir com o que os ambulatórios de “identidade de gênero” fazem com eles. Nós não somos negacionistas do sexo, que é o que fez com que a raça humana chegasse até aqui. Nós nos chocamos com a destruição da linguagem para descrever o que somos – homens e mulheres, tão-somente. Nós nos revoltamos com aqueles que estão em posições de poder – médicos, jornalistas, acadêmicos, políticos, militantes – fingindo que não sabem mais o que é uma mulher, legitimando injustiças óbvias como homens na categoria esportiva feminina das Olimpíadas. Como já foi dito, “todos nós sabemos o que é uma mulher, porque todos nós viemos de uma”.

A pressa em mudar os nomes e documentos de crianças e jovens vem daquilo que governa o mundo – o dinheiro. Os nomes têm poder – e os especialistas em “identidade de gênero”, em “saúde LGBTQ”, os que falam em “acolhimento LGBT” o sabem bem. Eles sabem que, quanto mais cedo se intervém, se aumenta a chance de que aquele garoto ou garota nunca mais venha a se reconciliar com sua realidade biológica e gere muitos lucros para os profissionais de saúde que escolheram o nicho de mercado que, conforme denuncia a analista de marketing Elena Armesto ao jornal La Hora Digital, passou a valer nos últimos cinco anos três bilhões de euros.

Parece “diversidade e inclusão”, mas é só dinheiro.

Abraços,

Equipe No Corpo Certo

O poder de um nome

Como quaisquer pais que esperavam um bebê, ficávamos pra cima e pra baixo pensando em nomes para o nosso filho, que nasceria em breve. Nós já tínhamos escolhido um nome de menino. Max era um nome de que ambos gostávamos muito, então foi fácil. Mas o nome de menina fugia da gente. Escrevemos listas e depois riscamos todas. Até recebemos um livro de nomes. Quanto mais nomes olhávamos, mais longe parecíamos estar de decidir um nome de garota.

E então, uma noite, Ellie* entrou na minha vida. Não, esta não é a Ellie em quem você deve estar pensando.

Eu era enfermeira da NICU e nessa época tinha um emprego noturno numa unidade menor. Uma das enfermeiras do pós-parto entrou e perguntou se podíamos ajudar. A mãe da pequena Ellie não dormia há quase três dias desde o parto por cesariana. Poderíamos cuidar da Ellie por algumas horas e dar um descanso a esta mãe exausta?

Eu estava feliz em ajudar. Era uma noite calma e eu era bem boa em fazer dormir os bebês mais exigentes. Posicionei a pequena Ellie sobre a minha própria barriga crescida, enrolada no seu cobertor de coelhinho do hospital. Ela era um bebezinho lindo. Cabelo escuro, uma carinha doce. Eu a segurei, cantei uma canção para ela, acariciei a sua doce cabeça. Ela parou de se contorcer e caiu no sono.

Ellie. Que nome tão doce. E, naquele momento, eu soube. Se tivéssemos uma menina, o nome dela seria Ellie.

Foi preciso um pouco de persuasão para convencer o meu marido dessa escolha. Ele não gostou de cara. Mas depois que eu o sugeri novamente algumas semanas mais tarde, acho que a vontade cresceu dentro dele e a escolha foi feita.

Nunca esquecerei a primeira vez que vi o seu rosto. Eu tinha visto centenas de rostos recém-nascidos, na minha linha de trabalho. Mas nunca um igual a esse. Era única. Especial. E naquele momento aprendemos que tínhamos uma menina. Ellie. Fiquei apaixonada. Lembro-me do seu pequeno berço de hospital, e de como o sol da manhã entrava pela janela, lançando um raio brilhante através do acrílico. A sua primeira manhã. Pensei em todas as primeiras manhãs que existiram antes dela, e em todas as coisas que mal podia esperar para lhe mostrar, sobre este belo mundo em que ela tinha acabado de entrar.

Cerca de 2 anos mais tarde, estava à espera do nosso segundo filho, outra menina. Estávamos no parque, numa tarde ensolarada de outono. Ao empurrar Ellie no balanço, fui surpreendida ao ouvir outra mulher a chamar a sua filha no balanço seguinte. O nome dela era Ellie.

Parei, surpreendida. Voltando-me para ela, percebi que esta criança era de fato a bebê Ellie que eu tinha acalentado naquela noite no hospital. Me apresentei e a mãe da Ellie e eu demos uma doce gargalhada, lembrando-me daquela noite. Ela, claro, não fazia ideia de que a sua escolha de nome tinha inspirado mais alguém. Duas estranhas, as nossas vidas se cruzaram de uma forma significativa.

Eu a vi mais uma vez na mercearia algumas semanas mais tarde. Ainda penso nela, ocasionalmente, perguntando-me como a Ellie está. Ela é casada? Foi para a faculdade, tem filhos? Nunca saberei.

Há dois anos atrás, a minha linda filha Ellie mudou legalmente o seu nome. Ela agora considera o nome que lhe foi dado com amor e que integra a parte mais preciosa da minha vida abusivo. Ela o chama de seu “nome morto”.

Isto é como uma morte para mim e para qualquer outra mãe que esteja proibida de dizer o nome da criança que ela deu à luz e criou. É um trauma, é uma injustiça. Há muitos que insistem que é uma simples cortesia usar os pronomes e nomes que as pessoas transgênero escolheram para si próprias. Qual a dificuldade, afinal? eles perguntam. Eles têm o direito de achar isso, se isso faz com que eles se sintam, de alguma forma, nobres. Mas eu não vou conseguir chamar a minha filha de “ele”. Simplesmente não posso. Eu a carreguei. Eu a alimentei. E como uma das coisas mais básicas e profundas que uma pessoa faz por outra, eu lhe dei o nome.

O seu nome é Ellie.

*Utilizei aqui um pseudônimo