Minha querida,
você venceu. Contra tudo, contra todos, contra o poder financeiro e político de laboratórios, partidos, mídia, das organizações “LGBTQIA+”, dos grupos formados por mães e pais de supostas “crianças trans”… você venceu a ação que moveu contra um dos maiores ambulatórios de “identidade de gênero” do mundo. Nós estamos imensamente felizes e legendamos seu discurso histórico no nosso canal do Youtube. Te agradeço por construir, através dessa ação judicial, de suas declarações na imprensa e do seu perfil no Twitter, uma nova visão sobre seres humanos em desconforto com seus corpos.
Deveria ser lida por todo mundo a decisão longa e bem fundamentada da High Court (Alta Corte), a qual estabeleceu, acerca do uso de hormônios bloqueadores de puberdade com base em diagnósticos de “incongruência de gênero”, que “Dadas as consequências a longo prazo das intervenções clínicas em análise neste caso, e dado que o tratamento é novo e experimental, nós reconhecemos que os médicos devem considerar estes como casos em que a autorização judicial deve ser buscada anteriormente ao início do tratamento clínico”. Entre outros pontos relevantes, o Reino Unido confirmou o que nós dizemos há anos: médicos estão fazendo experiências com uma população vulnerável, condicionando-a a prosseguir para a etapa seguinte dos hormônios cruzados (à qual podem se seguir cirurgias irreversíveis) e prejudicando a saúde, a fertilidade e a futura vida sexual de vocês – coisas que, nessa idade, a gente nem sempre entende o quanto são importantes. Que bom que o Judiciário do seu país se debruçou sobre as provas de maneira racional, ponderada e sem ceder a chantagens emocionais. Fiquei agradavelmente surpresa, também, em ver que o sistema público de saúde britânico imediatamente suspendeu o emprego destas substâncias nos menores de 16 anos atendidos nesses lugares e anunciou a revisão de todos os encaminhamentos já feitos para esses casos. Também vibrei quando a incansável jornalista Jennifer Bilek, provando que o bom e velho jornalismo investigativo não morreu, divulgou que a derrota do ambulatório fez despencar as ações do laboratório AbbVie, que fabrica bloqueadores de puberdade.
Nós também temos uma notícia boa. No dia 23 de novembro deste ano, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do Brasil publicou uma nota manifestando-se contra as intervenções hormonais em menores de idade, introduzidas aqui em 2013 pelo Conselho Federal de Medicina e reafirmadas em 2020 pelo mesmo órgão através da Resolução nº 2265/19. Em um trecho, a nota afirma: “Nesses termos, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos vem a público reafirmar que Resolução n.º 2.265/2019 do Conselho Federal de Medicina provoca grave violação ao ordenamento jurídico nacional, podendo, se aplicada a crianças e adolescentes, produzir efeitos nefastos e de proporções inimagináveis na vida desses sujeitos em desenvolvimento, que justamente por esta condição, devem ser protegidos de toda e qualquer forma de interferência artificial em seu pleno desenvolvimento”. A nota contém um pequeno erro em outro trecho, o qual menciona a idade de “16 anos”, pois no Brasil essa idade é exigida apenas para o uso dos hormônios cruzados (os que conferem características do sexo oposto) e não para os hormônios bloqueadores da puberdade (os quais impedem o amadurecimento e são dados, você sabe, já a partir da infância). Além do que, não foram informadas as providências que serão tomadas contra a Resolução, a qual também está sendo discutida com a “diretoria ´LGBTQI´” do órgão. Mas foi um avanço: desde a importação desse “tratamento”, em 2013, acredito que tenha sido a primeira vez que um ministério se manifestou sobre o assunto. Estamos no aguardo de outro Ministério, o da Saúde, atuar, até porque essa prática contraria uma norma dele mesmo, a Portaria nº 2802/13, que exige o mínimo de 18 anos para alguém iniciar as modificações corporais. Acreditamos, Keira, que a sua vitória terá repercussões no Brasil e que 2020, o inacreditável ano da pandemia gerada pelo COVID19, tenha sido também o último em que meninos e meninas foram hormonizados aqui. Acreditamos que, em 2021, os deputados e senadores aprovarão aquele que é até agora o único projeto de lei federal que visa a proibir esse procedimento no Brasil, o PDL 19/20, da deputada Chris Tonietto. Que terão a grandeza de compreender a gravidade do que está acontecendo e de passar por cima, ao menos nessa questão, de suas diferenças partidárias, ideológicas e religiosas.
Keira, as nossas “Tavistock Clinic” são chamadas de ambulatórios de “identidade de gênero” e eles também são pagos com o dinheiro público. Por enquanto, há três que “atendem” menores de idade: dois no Estado de São Paulo e um no Rio Grande do Sul. O mais propagandeado é o AMTIGOS, o “Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual”.
Eu espero que chegue aos profissionais que trabalham nesses ambulatórios, aos políticos que defendem esse “tratamento” e às mães e pais que levam seus filhos até lá a sua mensagem :”Eu não acredito que crianças e jovens possam consentir com o uso de drogas hormonais poderosas e experimentais como eu consenti“.
Keira, eu sinto muito que os adultos tenham falhado em proteger você.
Cabia aos médicos ter refletido mais sobre os problemas éticos de se impedir crianças e adolescentes fisicamente saudáveis de amadurecer através do uso de remédios pesados, com efeitos similares aos de uma quimioterapia, desenvolvidos originalmente para homens maduros com câncer de próstata. Vez ou outra releio o Parecer nº 8/2013, o documento que introduziu essa prática no Brasil, e me detenho neste trecho:
Keira, como médicos puderam fazer isso?! Aprovar substâncias que podem prejudicar o cérebro e os ossos de vocês?! Como o Conselho Federal de Medicina pôde opinar favoravelmente? Como o Estado de São Paulo pôde implementar isso no seu respeitado Hospital das Clínicas e como o Estado do Rio Grande do Sul pôde copiá-lo?
Cabia aos psicólogos e psicanalistas denunciarem que diagnósticos e “tratamentos” nessa idade são parte do crescente processo de medicalização da infância e da adolescência (e, em última análise, da vida). Cabia a eles rejeitar esse contínuo lugar de subalternidade diante do discurso médico, apontar que intervenções precoces como hormônios e mudança de nome solidificariam o que em regra era passageiro e exigir que a “disforia de gênero”, ao menos em menores de idade, fosse tratada como outros sofrimentos psíquicos como anorexia, bulimia, depressão, ansiedade: cuidando da mente e não ferindo o corpo. Cabia a eles ter alertado para os estudos que demonstram os resultados negativos a longo prazo do chamado “processo transexualizador”. Cabia a eles ter denunciado unanimemente que a diminuição da idade mínima para intervenções hormonais e cirúrgicas não tinha evidências científicas suficientes (muito menos se baseou nas referências da psicologia infanto-juvenil!); que, pelo contrário, todos os estudos indicavam que é justamente a passagem pela puberdade que quase sempre elimina esses desconfortos, funcionando como um remédio natural. Cabia a eles ter lutado contra as leis e normas que prejudicam os seus pacientes e punem a eles mesmos caso teimem em continuar oferecendo uma terapia verdadeira, aberta a possibilidades; cabia a eles ter denunciado a desonestidade de quem compara ajudar pacientes a se reconciliar com seus corpos a “fazer terapia de conversão” como os que “tentam transformar gays em heteros”.
Cabia aos acadêmicos terem garantido que a universidade se mantivesse um espaço de dissenso saudável em vez de transformá-la, no que diz respeito à discussões sobre sexo/”gênero”, em um templo de dogmatismo, no qual todos obrigados a professar (ou, ao menos, fingir que professam) a fé na ideia de “identidade de gênero”. Uma fé que exige a repetição de mantras (“mulheres trans são mulheres, homens trans são homens”) sob pena de uma acusação de heresia (“transfobia”). Um espaço que se diz científico, mas que defende o negacionismo do sexo biológico.
Cabia aos donos de comunicação terem garantido a liberdade de expressão de seus repórteres (e, aos jornalistas que possuem essa liberdade, terem apurado melhor o tema) em vez de fazer da imprensa uma cheerleader da medicina e do discurso “trans” e “LGBTQIA+”, com matérias que mais parecem anúncios publicitários sobre os “novos tratamentos”. Fêz-se publicidade e não notícia, pois em notícia se ouve outras vozes, se faz ponderações, se aponta riscos; “jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”, diz a famosa frase atribuída a William Randolph Hearst. É lamentável que jornalistas ocultem do público fatos como a luta da mãe de uma garota de 17 anos para evitar a mastectomia da filha no Canadá, mastectomias essas que estão sendo realizadas em garotas com menos de 15 nos EUA quando os pais autorizam. É lamentável que não vejam a semelhança entre hormonizar um garoto por “mau comportamento” (e sem o conhecimento dos pais), como aconteceu nos EUA, e por “comportamento do gênero feminino”, de acordo com esta matéria sobre um caso ocorrido no Brasil. Um jornalismo que se preze deveria ter se debruçado sobre a correlação entre a liberação do uso de hormônios em menores de idade e o aumento do número de diagnósticos baseados em “gênero” nessa faixa etária em vez de reproduzir falas como “as crianças trans sempre existiram, vocês não viam porque elas estavam invisíveis!”. E é lamentável a pouca divulgação de fatos que contrariam a narrativa “trans”, como o resultados de um estudo conduzido no seu país, Keira, liberado apenas depois do julgamento: dos 44 pacientes que receberam os bloqueadores de puberdade, 43 pularam para os hormônios sintéticos. Ou seja, o bloqueio puberal, na prática, não funciona como um “botão de pausa” para o paciente “explorar seu gênero e nos dizer se é menino ou menina”, como propagandeiam os especialistas, e sim como uma técnica de condicionamento para ele permaneça no caminho hormonal.
Nós deveríamos ter percebido que a sigla “LGBT”, que depois virou “LGBTQIA+”, não era uma mera atualização da sigla “GLS”. Nós deveríamos ter estranhado que de repente fôssemos todos tão ignorantes sobre o que é ser homem e mulher a ponto de sermos ensinados por alguém que domina o jargão do “gênero”. Ter percebido que essa sigla nada tinha em comum com os grupos que anos atrás lutavam pelo direito à orientação sexual (e nem mesmo com a ideia do transexual médico) e sim configura um empreendimento global que lucra com a dissociação corporal de seres humanos vulneráveis e que trabalha para substituir a realidade do sexo biológico pelas ideias de “gênero” e “identidade de gênero”. Ainda que custe a saúde das crianças e jovens, inclusive os autistas, ainda que custe os direitos de meninas e mulheres , ainda que custe a nossa liberdade de expressão. Ativistas atuam como representante dos interesses farmacêuticos quando anunciam o produto hormônio como algo que “salva vidas” e que faria a mágica de transformar meninos em meninas e vice-versa. Nós demoramos a perceber e agora essa sigla aparelhou órgãos públicos, privados, partidos, prefeituras, Estados e governos. Políticos aderiram acriticamente a estas exigências e direcionam recursos públicos para mais ambulatórios, mais cirurgias, mais fornecimento de hormônios. Alguns devem estar munidos das boas intenções, mas outros apenas retribuem as doações que receberam da indústria farmacêutica. Cabia a eles terem refletido se cirurgias em corpos saudáveis seriam prioridade num país como o Brasil, com mazelas históricas na área de saúde e que experimenta em 2020 uma pandemia.
Nós demoramos a perceber que “gênero na escola” era, para muita gente, uma estratégia de marketing (estratégia essa que também acontece em abrigos, aliás). É especialmente atraente para os mais novos a fantasia de que “a gente pode ser o que quiser”. Não, não podemos e precisamos parar de mentir a eles. Reparar nessa eficiente estratégia de marketing, colorida e infantilizada, com o “boneco do gênero”, inspirado num biscoito, e o “unicórnio do gênero”. Nós deveríamos ter impedido que alguém, mesmo que alguém no qual confiamos, dissessem às crianças e jovens que comportamentos fora do padrão como brinquedos ou roupas indicariam uma suposta “identidade de gênero” “incongruente com o sexo biológico”, “incongruência” essa a ser corrigida com as substâncias sintéticas ministradas pelos bondosos doutores. Nós deveríamos ter rejeitado o rótulo de “cisgêneros” e insistido que somos homens e mulheres e apenas isso. Deveríamos ter percebido que a condição médica dos intersexuais estava sendo deturpada em frases como “sexo é um espectro” quando sexo é sim binário. Nós deveríamos ter nos perguntado a quem interessa ensinar a um menino que ele pode ser um “travesti/transexual/transgênero”:
Nós demoramos a perceber e agora pessoas bem-intencionadas mas desavisadas estão aprendendo e ensinando errado em cursos e formações sobre “gênero, sexualidade e infância”, as redes sociais estão repletas de clichês como “protejam as crianças trans” e “a criança LGBT existe” e exigências de linguagens falsamente inclusivas do tipo “todos, todas e todes” – como se realmente houvesse um terceiro tipo de ser humano que não seria nem homem nem mulher. Por todo o aparelhamento realizado por essa sigla, eu lamento que o tribunal britânico que te concedeu a vitória não tenha proibido a hormonização de menores de idade e sim se limitado a exigir autorização judicial; primeiro porque um juiz, ainda que bem-intencionado e auxiliado por profissionais de saúde mental, não tem condições de atestar a capacidade de consentimento de um ser cujo corpo e cérebro ainda não foram formados; essa incapacidade deve ser, simplesmente, presumida. Segundo porque nós sabemos o quanto as instituições, inclusive o Judiciário, foram cooptadas por essa ortodoxia.
Eu sinto muito que os adultos não percebam que essa prática mantém o padrão histórico de violência cometido por adultos contra crianças e adolescentes. Adultos têm uma longa tradição, por exemplo, em castrar meninos; a medicina trans faz isso através da aplicação de substâncias similares às aplicadas em estupradores mas isso também já foi feito em nome de seitas macabras, de manter suas vozes agudas no canto e também – atenção – porque alguns deles supostamente disseram que queriam ser meninas, como no caso do menino Rhuan, barbaramente assassinado em 2019 no Distrito Federal:
Adultos também têm uma longa tradição em machucar meninas.
A mesma sociedade que condena o binding (compressão) dos pescoços de meninas tailandesas, dos pés de meninas chinesas e dos seios de meninas africanas tolera e até incentiva o binding baseado em “identidade de gênero”. Se uma escola recebesse um palestrante que justificasse o uso de sutiãs apertadíssimos, a ponto de atrapalhar a respiração das alunas, ele seria visto com horror, mas se você trocar a expressão “sutiã apertadíssimo” por binder, essa fala poderia tranquilamente fazer parte de uma palestra sobre “pessoas trans”. A influente “ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais”, por exemplo, tem uma “cartilha” na qual essa prática é chamada de “tecnologia corporal”. Cada vez mais, coisas que apontaríamos imediatamente como falsas, perigosas e ou inadequadas a menores de idade são normalizadas, bastando que seja mencionada a palavra “trans”. Um exemplo foi o recente seminário LGBT da Câmara dos Deputados, que contou com a presença de “Indianare”, transativista pró-prostituição (que, após expulsão do PSOL-RJ, se filiou e se candidatou pelo PT-RJ em 2020) e… de uma criança de apenas 12 anos. Nenhum dos adultos que participou do seminário, e foram vários, incluindo políticos, percebeu que isso era inadequado?
Eu sinto muito que tanta gente tenha se esquecido que crianças e adolescentes são seres humanos em formação, a quem devemos amorosamente conduzir e isso às vezes significa dizer não. No seu depoimento (parágrafo 83), você disse que “tomou uma decisão inconsequente enquanto uma adolescente (como muitos adolescentes fazem) tentando encontrar confiança e felicidade, só que agora todo o resto da minha vida será negativamente afetado”. Querida, adolescentes são inconsequentes; a culpa não foi sua. Todos nós fomos assim, uns mais, outros menos, pois estávamos em formação física, mental e emocional e é por isso que existem leis para proteger seres humanos nessa faixa etária, é por isso que dependendo da idade e do país vocês não podem dirigir, votar, serem eleitos, fazer tatuagem, trabalhar fora, se casar, ter relações sexuais, participar de filmes pornográficos ou serem prostituídos, fumar, beber álcool, não podem ser presos, comprar e vender imóveis ou viajar sozinhos. Há coisas que apenas na idade adulta entendemos e uma delas é o que significa realmente ser homem ou mulher e o que vem com essa realidade. Eu sinto muito que adultos tenham te dito que o desconforto com a puberdade significa que o problema seja a puberdade em si e que esta deveria ser “pausada”. Não, não é, a puberdade na idade normal é um fenômeno tão natural do corpo quanto nascer e morrer. Você não podia ter sido declarada um homem antes de pelo menos saber o que é ser uma mulher feita, antes de pelo menos ter a chance de fazer as pazes com esse corpo que muda tanto da infância até a vida adulta e que a gente é ensinada, desde a infância, a criticar e até odiar (sobretudo quando se é, além de menina, uma menina negra e lésbica). Você não tinha idade para compreender que nossos membros, incluindo os seios que um cirurgião qualquer decepou quando você tinha apenas 20 anos, não são descartáveis.
(Crédito: Meg Gaiger – Harpy Images)
Cabe aos adultos prestar atenção no que estranhos estão falando com vocês na internet. Vigiar o tempo todo é inviável, mas ensinar sobre o que são meninos e meninas (e dependendo da idade também alertar para o impacto do apagamento do sexo nos próprios direitos deles, como banheiros separado por sexo) é não só possível como essencial. É fundamental fazermos um trabalho de formiguinha para contrabalançar esse aliciamento incessante (quantos “personagens trans” há na Netflix, por exemplo?). No meio do processo de escrita desta carta, nossos leitores nos informaram que um canal infantil, o Cartoon Network está ensinando as crianças sobre “identidade de gênero” e pronomes escolhidos – inclusive o “them” (“eles”) para nos referirmos a uma só pessoa caso ela assim queira!
Cabia aos adultos serem menos crédulos. Desconfiar, desobedecer, questionar. Terem um olhar mais crítico em relação às coisas. Respeitar seus instintos – muitos admitem que “sentiam que havia algo estranho”, mas imaginaram que era “preconceito” ou “ignorância”. Cabia aos adultos serem menos manipuláveis pelas histórias “emocionantes” de “crianças trans” que viram na TV Globo, no “Mídia Ninja”, no “Mães pela Diversidade”. Cabia aos adultos terem atentado para o risco oferecido pelas redes sociais, mostrado no documentário “O Dilema das Redes”, da Netflix: o processo de sair do anonimato para milhares de seguidores nas redes sociais pode sedimentar precocemente uma identidade “trans”. As redes, quando mal-usadas, criam seres humanos cada vez mais dissociados do mundo real.
É por todas essas razões, Keira, que eu, pessoalmente, não culpo as mães e pais de vocês. Porque eu sei que existe todo um aparato financeiro, político e ideológico para que eles neguem a realidade. Existe todo um conjunto de técnicas para que eles acreditem que amar os filhos significa fingir que eles são do sexo oposto. Recebemos apelos de pais assustados porque suas filhas e filhos adolescentes exigem, aos gritos, que eles sejam declarados “válidos”, que “seus pronomes” sejam respeitados, que suas crenças sejam legitimadas – quando não é papel dos pais nem de ninguém validar a autopercepção do outro. Num momento em que tanto se fala em “empoderamento”, os pais de crianças e jovens que se declaram “trans” foram desempoderados pela medicina, pelo ativismo “LGBTQIA+” e pelas crias… desempoderados a ponto de terem medo dos filhos (mesmo que eles só tenham 14 anos!), desempoderados a ponto de se esquecerem que eles próprios já foram adolescentes, já choraram, gritaram, deram escândalos e sentiam realmente que iriam morrer se não conseguissem o que queriam. Nossas emoções eram intensas, nossos hormônios nos deixavam enlouquecidos e mesmo assim nos achávamos muito maduros para a idade e senhores de nossas decisões. Cabe aos adultos acolher estas crianças e jovens, mas não “aceitando que seus filhos são trans” e sim garantindo que cheguem à idade adulta em segurança e só aí tomem decisões acerca de seus corpos. Cabe às mães e pais dizer não. Sempre foi papel das mães e pais dizer não e precisa continuar assim. Esta carta é para você, Keira, e também para eles.
Que bom que você existe. Receba meu abraço. Que em 2021 fiquemos mais conectados – com a realidade.
Com carinho,
Eugênia.
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Para saber mais
https://thecritic.co.uk/the-dehumanising-danger-of-social-media/
http://radfem.info/nao-havia-nada-de-errado-com-meu-corpo
https://legalfeminist.org.uk/2020/12/04/bell-v-tavistock-and-portman/
https://unherd.com/thepost/in-the-keira-bell-case-the-nhs-trust-had-no-answers
https://unherd.com/2020/12/for-me-self-identification-was-a-con/