Caro leitor ou cara leitora,

muito provavelmente, você já ouviu a máxima de que “uma mentira repetida muitas vezes vira verdade”. A autoria da frase é atribuída a Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda de Hitler na mesma época e país que viu nascer a medicina “trans”, através de nomes como o do dr. Kurt Warnekros. O médico foi o principal responsável pelas cirurgias que mataram o pintor Einar Wegener, cuja história é contada no filme “A Garota Dinamarquesa”.

No caso das estatísticas “T”, foi isso que aconteceu: a ideia de que homens e mulheres que se autodeclaram “trans” seriam a minoria ou uma das minorias mais assassinadas, estupradas, agredidas e discriminadas do planeta foi e é repetida diariamente por eles próprios, suas organizações, empresas privadas, órgãos públicos e meios de comunicação e essa fake news ajudou a passar, a toque de caixa, leis, normas e políticas públicas baseadas em suas invisíveis “identidades de gênero”. No caso do Brasil, foi ainda mais fácil convencer as pessoas e organizações; aqui, transativistas têm a seu favor tanto as taxas altas de criminalidade em geral quanto a vulnerabilidade de pessoas em situação de prostituição, sejam elas homens, mulheres ou crianças; assim, se um homem prostituído que se traveste (“travesti”) é assassinado (seja por um cliente, um cafetão, outro homem prostituído, um traficante de drogas etc.) essa morte é rapidamente imputada a “transfobia”. Ironicamente, os próprios transativistas proeminentes no Brasil e no mundo insistem que a prostituição seria um simples “trabalho sexual”.

As estatísticas “T” e “LGBT” no Brasil já foram questionadas em diversas oportunidades, como no jornal Gazeta do Povo e no perfil de Instagram da WDI Brasil, mas continuam sendo roboticamente repetidas inclusive por jornalistas, que em tese deveriam checar essas informações por nós. Mostrando que a mentira é internacional, traduzimos para você o artigo publicado no The Critic em 21 de outubro de 2021 por Madison Smith, traduzido e enviado por Angela Lopes.

Abraços e até a próxima.

Eugênia Rodrigues

Jornalista

Porta-voz da campanha No Corpo Certo

Nem marginalizados, nem abusados e nem vulneráveis – desmascarando um ponto de discussão persistente na campanha por direitos trans (1)

21 de outubro de 2021

Faça qualquer pergunta a quase qualquer político sobre identidade de gênero (2) – mesmo que seja especificamente sobre os corpos das mulheres ou os direitos das mulheres – e você inevitavelmente ouvirá a seguinte frase com variação mínima:

“O que devemos lembrar é que a comunidade trans é uma das mais marginalizadas, abusadas e vulneráveis da sociedade.”

Na verdade, a brilhante Karen Actually fez um vídeo de Karen Actually sobre isso!

Em sua resposta, muito ridicularizada, a uma pergunta sobre se seria intolerante dizer que apenas as mulheres têm útero, o líder trabalhista Sir Keir Starmer falou: “Precisamos ter em mente que a comunidade trans está entre as comunidades mais marginalizadas e abusadas”.

Solicitado a dar sua opinião sobre os comentários de Kemi Badenoch de que o ativismo LGBT passou de querer liberdade para se casar com quem você quiser para homens querendo usar banheiros femininos, o prefeito de Londres, Sadiq Khan, respondeu: “A comunidade trans é uma das mais vulneráveis em nossa sociedade.”

O líder liberal democrata Sir Ed Davey, presumivelmente por conta própria, até twittou que “a comunidade trans é uma das mais discriminadas no Reino Unido” para condenar uma história de que o governo provavelmente não introduziria a auto-identificação para que os espaços femininos fossem protegidos.

(#pratodosverem: tuíte do líder Ed Davey junto de imagem do jornal Sunday Times contendo matéria jornalística. O tuíte poderia ser traduzido como “Mulheres trans são mulheres, homens trans são homens. A comunidade trans é uma das mais discriminadas no Reino Unido. Os Lib Dem [Liberais Democratas] devem sempre apoiar igualdade e Direitos Humanos para todos e trabalhar para acabar com a discriminação e o abuso”).

É um escudo, fornecido por seus assessores, através do qual eles se escondem e, como raramente isso recebe resistência de jornalistas informados, tem o efeito mágico de encerrar a discussão antes mesmo de começar. É por isso que os políticos adoram. É o equivalente no Reino Unido ao catecismo de “pensamentos e orações” recitado por políticos americanos depois de cada tiroteio em massa.

Há apenas um problema com isso. Não é verdade. Não é nem remotamente verdade.

Vamos começar com o indicador mais claro da extensão do quanto uma comunidade é “marginalizada e abusada”: a taxa de homicídios daqueles que estão dentro dela. Como não há uma definição estável do que constitui uma “pessoa trans”, não existe um método padronizado para registrar as mortes de pessoas trans (3) em todo o Reino Unido. No entanto, sabemos que houve apenas oito assassinatos relatados de pessoas que se definiram como transgêneros, transexuais ou travestis no Reino Unido desde que o registro começou em 2008. Até mesmo a organização trans Transrespect, que inclui pessoas que cometeram suicídio e pessoas cuja morte foi originalmente e erroneamente tratada como suspeita nos números de vítimas “assassinadas”, diz que o número de 2008 a 2020 é onze.

Observe que o Reino Unido não é uma anomalia europeia – na Alemanha não houve um só assassinato de uma pessoa trans desde 2008, enquanto 26 países da Europa não relataram assassinatos de pessoas trans durante todo o período.

Embora tenhamos visto um aumento acentuado no número de pessoas que se identificam como transgênero nos últimos anos, uma pessoa trans não é assassinada no Reino Unido há quase três anos e não há, por exemplo, relatos de sequer uma única pessoa trans na Escócia, no País de Gales ou na Irlanda do Norte que tenha sido assassinada.

Além disso, repare que nenhuma das onze pessoas que a Transrespect diz terem sido assassinadas foi morta por “transfobia”. A vítima em cada um dos casos foi tipicamente assassinada por um parceiro sexual masculino devido a problemas de drogas ou dinheiro. Nenhum foi morto por uma mulher – e um foi morto por um homem que se identifica como mulher.

De acordo com esta checagem de fatos, o adulto médio na Inglaterra e no País de Gales tem uma chance em 100.000 de ser assassinado em um determinado ano enquanto a pessoa trans média tem uma chance entre 200.000 a uma em 500.000 de ser assassinada no Reino Unido ao longo de um ano (agora está quase certamente mais próximo do topo devido à taxa de homicídios caindo abaixo de um por ano desde então). Conclui-se que uma pessoa trans tem menos probabilidade de ser assassinada do que a pessoa média. Na
verdade, uma pessoa trans tem menos chance de ser assassinada do que qualquer outra categoria ou identidade aceita.

Talvez possamos olhar para o número de crimes de ódio cometidos contra essa vaga categoria de pessoa. Fazer isso também sugere que a “comunidade” trans está longe de ser abusada.

É verdade que o número total de crimes de ódio aumentou nos últimos anos. No entanto, isso foi impulsionado por mudanças tanto no registro de crimes quanto na identificação do que constitui um crime de ódio. Medições de crimes de ódio que não são afetadas por mudanças nos métodos de policiamento ou registro, como o Crime Survey para a Inglaterra e País de Gales, mostram um “declínio a longo prazo nos crimes de ódio”.

O aumento de crimes de ódio a que muitos políticos se referem ao falar sobre a questão trans se deve à nova orientação do Colégio de Polícia que chegou em 2014 e que afirma que o “fator definidor” para saber se algo é medido como crime de ódio é “a percepção da vítima ou de qualquer outra pessoa”. Muitos deles parecem ser tão subjetivos que são absurdos, como alguém buzinando para um colega motorista – que denunciou isso à polícia  como um ataque racista, e pelo menos uma força admitiu que incluiu, em suas estatísticas de crimes de ódio, incidentes em que nenhum crime realmente ocorreu.

Outro relatório revelou que os policiais são vítimas de incidentes de crimes de ódio em quase metade de todos os processos por crimes de ódio. Isso provavelmente inclui o jovem com autismo que cometeu o erro de perguntar a uma policial feminina que se identifica como trans: “Você é menino ou menina?” Ele foi condenado (4). Talvez seja a hora de lembrar do caso de 2003 de um adolescente que perguntou a um policial montado: “Seu cavalo é gay?”.

Apesar de todo esse nonsense, das cinco vertentes monitoradas que a polícia registra como crimes de ódio, a categoria transgênero tem sido, a cada ano e de longe, a que tem o menor número de “crimes de ódio” contra ela. Na verdade, a religião – a segunda mais baixa – viu quase três vezes mais incidentes no último ano de registros.

Ativistas de direitos trans estão bem cientes da falta de estatísticas de crimes de ódio para apoiar essas alegações repetidas. Aqui, o gerente da Aliança Transgênero Escocesa na Rede de Equidade, James Morton, pede a uma pessoa trans para denunciar sua alegação de vitimização à polícia – pela simples razão de que “precisamos das estatísticas”.

(#pratodosverem: print de um diálogo em inglês no Twitter no qual se lê o perfil “James Morton” orientando o perfil  “Eleanor Matthews”: “Por favor, denuncie no formulário on line para crimes de ódio da Polícia da Escócia (você pode dizer que não precisa que eles te contactem de volta. Nós precisamos das estatísticas”).

Outra estatística comumente usada para mostrar a vulnerabilidade trans são as taxas de suicídio. Em particular, uma frase frequentemente dita é que “41, ou mesmo 48, por cento dos jovens transgêneros já tentaram suicídio”.

Os autores do estudo de 41% admitiram que sua pesquisa era falha (5),  enquanto o estudo de
48% vem de uma pesquisa de uma instituição de saúde mental, a PACE, que também foi amplamente desmascarada. De fato, apenas o tamanho da amostra, de apenas 27 pessoas auto-selecionadas, fez com que a Independent Press Standards Organization (IPSO)  [ Organização Independente pelos Padrões da Imprensa ] emitisse uma declaração de que os jornalistas que repetem tais estatística estão distorcendo a verdade já que  “destacam potenciais problemas na padronização relacionados a precisão”.

O GIDS do Tavistock, pertencente ao NHS [Serviço Nacional de Saúde] sugeriu que o suicídio entre aqueles que são encaminhados ao serviço é “extremamente raro” e um estudo do professor Biggs descobriu que crianças com autismo, depressão ou anorexia são muito mais propensas a própria vida do que uma criança com questões de identidade de gênero. Um estudo nos EUA em 2018 descobriu que menores de idade LGBT experimentam uma taxa mais alta de suicídios comparados com meninos heterossexuais, mas a maior questão era se são do sexo feminino ou não: as fêmeas transgênero, lésbicas e bissexuais tiveram uma taxa semelhante.

Os motivos dos ativistas dos direitos trans para convencer o público em geral de que as pessoas trans são o grupo demográfico mais vulnerável, contra todas as evidências disponíveis, são múltiplos.

Pais de crianças infelizes ou com questões de saúde mental que expressem dúvidas sobre sua identidade de gênero naturalmente tomarão medidas extremas e apoiarão políticas falhas que eles acreditam que impedirão seus filhos de tirar a própria vida.

Oportunistas como Owen Hurcum e Morgane Oger (7) podem enganar o público fazendo-o pensar que homens brancos privilegiados são dignos de sua simpatia e apoio.

Alunos podem fingir que mulheres como Kathleen Stock (8) são monstros, se escusando portanto do próprio comportamento monstruoso deles enquanto as assediam e aterrorizam.

Quanto aos políticos, trata-se de um blefe. Uma maneira fácil de fingir que eles entendem uma postura que nem mesmo seus proponentes entendem. Mas sua utilidade pode estar chegando ao fim, porque mesmo que os jornalistas continuem deixando-os escapar impunes, um público cada vez mais bem informado certamente não o fará.

Obrigado a Karen Actually por seu vídeo brilhante! Você pode segui-la aqui no Twitter.

Arty Morty fez um vídeo, brilhante como sempre,  sobre o assunto.

A StillTish também tem feito um excelente trabalho nesta área, que você pode encontrar aqui.

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(1) (Nota da No Corpo Certo): Como se trata de uma tradução, não acrescentamos aspas nos termos oriundos de linguagem fantasiosa. Contudo, insistimos na importância de, sempre que possível, utilizarmos palavras que retratam a realidade material do que são homens e mulheres. Assim, se seres humanos não mudam de sexo, então não seria possível existir realmente “direitos trans”. O que chamamos de “direito trans” – por exemplo, o de um homem competir na categoria feminina – é, na verdade, abuso de direito.

(2) (Nota da No Corpo Certo): Também buscamos, em nossos materiais, colocar aspas em “identidade de gênero”, a fim de marcar que questionamos essa ideia sem comprovação científica e sua aplicação compulsória sobre a população.

(3) (Nota da No Corpo Certo): Na nossa campanha, colocamos aspas em “pessoa trans” a fim de pontuar que seres humanos não “transicionam” de sexo/”gênero” e nem deveríamos fingir que isso seria possível, considerando as graves consequências dessa mentira para o resto da população.

(4) (Nota da No Corpo Certo): Parece difícil de acreditar que transativistas fariam isso com um adolescente autista, mas isso aconteceu no País de Gales. Aqui está um link para a matéria.

(5) (Nota da No Corpo Certo): Comentamos essa estatística neste texto sobre suicídios.

(6) GIDS significa “Gender Identity Developmente Service, algo como “Serviço de Desenvolvimento de Identidade de Gênero”] . Tavistock é um ambulatório de “identidade de gênero” que atende menores de idade.

(7) Um dos mais agressivos transativistas do Canadá, Oger e seus apoiadores conseguiram retirar as verbas do único abrigo destinado unicamente a mulheres vítimas de violência do país, em Vancouver (inclusive vítimas de estupro). O Canadá tem abrigos para pessoas que se autodeclarem “trans”, mas isso não foi suficiente para eles.

(8) (Nota da No Corpo Certo): Uma das poucas a denunciar o impacto do discurso “trans” no meio acadêmico, a filósofa pode ser seguida aqui.