Caros e caras,
no dia 16 de agosto deste ano, o filósofo e pedagogo Peter Boghossian publicou um vídeo em seu canal do Youtube, o qual foi divulgado no ótimo perfil de Twitter “Women´s Voices” (“Vozes de Mulheres”). Nós estamos, neste momento, traduzindo e legendando os principais momentos dele para o nosso canal no Youtube e convidamos você a nos seguir lá, assistir aos nossos vídeos e ativar as notificações [ edit: o vídeo foi legendado aqui; veja e compartilhe).
Trata-se da filmagem de um evento ocorrido na Universidade de Berkeley, na Califórnia, com plateia. Nesta ocasião, Boghossian recebeu três convidados no palco e estes foram convidados a dizer como se posicionam diante da frase “Mulheres trans deveriam ser tratadas legalmente como mulheres”. Cada um deveria ficar próximo de uma destas seis frases escritas no quadro negro: “concorda totalmente”, “concorda”, “é neutro (a)”, “discorda” ou “discorda totalmente”. Boghossian, ao ler a declaração, comentou: “Isso é, obviamente, muito complicado”.
Boghossian sabe, é claro, que o complicado não é exatamente saber a resposta, mas sim dizê-la. Atualmente, boa parte dos países instituiu uma espécie de religião oficial travestida de movimento social, a qual se baseia na crença que seres humanos teriam “identidades de gênero” e que são essas invisíveis “identidades” que diferenciam homens de mulheres e não o sexo. Questionar essa crença é uma heresia – digo, “transfobia”.
Fato é que uma das duas mulheres, a mais velha (que depois viremos a saber que é geneticista) se posicionou ao lado da última opção: “discorda totalmente”. O único homem se aproximou da opção “discorda” e a segunda mulher, bem mais jovem que a primeira, foi até a opção “concorda totalmente”. Depois, saberemos que ela é uma “aspirante a geneticista”.
O filósofo, primeiramente, questiona o homem sobre a sua escolha. Este se justifica citando a importância de proteger certos espaços separados por sexo como as prisões e esportes, mas diz que não se importa de utilizar pronomes escolhidos em “situações pessoais” e também não tem nada contra homens portarem documentos nos quais consta que eles seriam do sexo feminino. Ao abordar a jovem, esta timidamente respondeu que aprendeu no hospital em que trabalhou que deveria “fazer o que deixa o paciente se sentir confortável”, entre outros argumentos emocionais. O entrevistador pergunta: mas ela não conseguiria pensar em situações nas quais “mulheres trans” não deveriam ser tratadas “como mulheres”? Ela menciona como possível exceção os esportes, mas, sobre estupros em prisões, alega que escolher onde será alojado seria “a decisão deles… se eles voluntariamente escolheram mudar de gênero…”. Ele insiste, mas ela mantém sua posição. Finalmente, aos 5min57seg, o acadêmico se dirige até a mulher que se posicionou à frente da frase “discorda totalmente” e pergunta o motivo de sua opção.
“Porque eu sou uma geneticista molecular!”, ela responde, entre preocupada e aturdida.
Ele aduz que não entende do assunto porque “não entende de genética”. Ela olha para ele entre divertida e estarrecida – pois obviamente todos sabemos a diferença entre homens e mulheres – e continua:
“Ser macho ou fêmea é um processo desenvolvimental. Então, você não pode voltar atrás. Você não consegue mudar de sexo, você não consegue fazer isso. E a verdade é que, atualmente, na Califórnia, nas prisões californianas e em outras partes do país, as mulheres estão sendo engravidadas… por outras ´mulheres´ [ ela faz o sinal de aspas ao pronunciar essa palava]. Não dá… isso deve ser contra as Nações Unidas… depois da Segunda Guerra Mundial, houve uma… eu não lembro qual organização veio com um estatuto, eu acho que foi [ a convenção de ] Haia… você não pode alojar prisioneiras junto com prisioneiros, porque elas são estupradas… e isso está acontecendo hoje! E não está nos jornais… não está nos jornais comuns… mas… eu sei sobre isso.“
Após uma breve clarificação do entrevistador, ela continua, visivelmente emocionada:
“Sim, desculpe, eu só… isso me irrita tanto… meu coração pula… e eu só… sabe, eu vou para o vestiário das mulheres na minha academia… e tem um cara lá… e ele fica pondo maquiagem e brincos de argola… e isso não é uma coisa que uma mulher faz quando ela está indo se exercitar!“
O apresentador brinca que não sabe o que acontece nos vestiários femininos; então esse comportamento não é comum entre elas? Ela responde:
“Não, e nem as mulheres batem nas outras até a morte. Mas homens batem. É tão triste que as mulheres tenham uma misoginia internalizada a ponto de que o conforto dos homens tem precedência sobre a segurança das mulheres! Há um motivo pelo qual eles não querem estar nas prisões deles: porque homens batem nos outros até a morte! Mulheres não fazem isso!”.
Ela é aplaudida vivamente pela plateia. Peter Boghossian então volta até a jovem transally e a questiona novamente; ela desvia o assunto perguntando sobre mulheres que se declaram homens invadindo espaços masculinos. A geneticista responde, simplesmente: “Mulheres não podem engravidar homens à força”. Ele então pergunta à jovem o que poderia fazer com que ela movesse da posição “concorda totalmente” para a posição “concorda” e ela titubeia, dizendo que se considera “bastante mente aberta”. (E é tentador completar mentalmente com “tanto que os miolos caíram no chão”, mas precisamos reconhecer a intensa e diária lavagem cerebral “trans” ocorrida nos últimos 15 anos; a julgar pela idade que aparenta, esta moça passou a maior parte da vida adulta ouvindo que alguns homens são “mulheres trans”, que “mulheres trans são mulheres”, que “homens podem engravidar” etc.). “Ter empatia por outras pessoas também é importante”, ela tenta argumentar. Boghossian então faz a mesma pergunta ao homem e à geneticista, perguntando se algo que ouviram os faria migrar para a posição “discordo” em vez de “discordo totalmente”. O homem diz que até poderia mudar de ideia diante de determinados casos, mas a mulher responde, firmemente:
“Não, eu entendi muito bem”.
“E você tem certeza?” ele insiste.
Ela responde, levantando a mão:
“Tanta certeza quanto de que esta é a minha mão em frente ao meu rosto em vez da sua. Com certeza… essa é a coisa mais insana que já aconteceu na minha vida… que mulheres são um sentimento, agora. E, sobre o assunto da licença de motorista… se um homem que transicionou tiver ´F´ [de female, mulher] na licença de motorista e ele for preso… eles vão colocá-lo numa cela com uma mulher… e as mãos dele são mais fortes, e o corpo dele é mais forte… e ele pode bater nessa mulher até a morte!”
Mesmo que você não fale inglês, te peço encarecidamente para que não somente leia este texto, mas também veja o vídeo, a emoção que ela sente, sua mais do que justa revolta que é a revolta, garanto, da metade do planeta da qual faço parte.
O homem que havia escolhido a posição “discorda” então aponta que esse seria um motivo para que fosse criada uma categoria específica para homens que se declarem “mulheres trans” e não como “mulheres” e muda de posição para “discorda totalmente”. Boghossian se dirige pela última vez à jovem, que está visivelmente confusa e dividida, mas ela expressa não ter sido ainda convencida e ele encerra a dinâmica.
Nós também encerramos este texto, repetindo esta frase da mulher mais velha:
“Essa é a coisa mais insana que já aconteceu na minha vida… que mulheres são um sentimento, agora”.
Abraços e até a próxima.
Eugênia Rodrigues
Jornalista
Porta-voz da campanha No Corpo Certo
www.nocorpocerto.com