Cara ou caro,
tenho uma pergunta para você: quantas mulheres adultas heterossexuais você conhece que estão se autoidentificando como homens? Quantas estão agendando mastectomias eletivas, comemorando o nascimento de barba e exigindo de namorados, maridos e companheiros que comecem a se reconhecer como bissexuais (já que agora eles estariam se relacionando com um “homem trans”)?
Você sabe a resposta: nenhuma ou raríssimas. São as lésbicas, sobretudo bem jovens, que estão buscando uma suposta “identidade masculina”. E profissionais de saúde mentão não estão nem mesmo investigando suas questões psíquicas e psiquiátricas antes de legitimar suas autoidentidades – afinal, se o fizessem, o número de lucrativas pacientes para os consultórios de endocrinologistas e cirurgiões cairia drasticamente.
Por esse motivo, a partir de agora, reuniremos numa só série e com esta imagem os relatos, textos e análises específicos sobre o impacto do transgenerismo sobre esta população. E o ponto de partida é um texto enviado pela leitora Vanessa. Obrigada, querida!
Aproveitamos para informar que desativamos nosso Instagram a fim de proceder a atualizações em nosso site, em especial na seção de referências. Nos últimos tempos, houve inúmeros artigos, livros, novos veículos e organizações questionando esta ideologia e eles precisam constar ali. Continuamos acessíveis em outras redes sociais, inclusive lançando um vídeo no Youtube sobre a importância de protegermos os banheiros e outros espaços separados por sexo. E eu, Eugênia, cometi também a temeridade de fazer um perfil no TikTok 🙂 Nunca tive interesse nele; sempre primei pela palavra escrita (se pudesse escolher, a No Corpo Certo não teria rede social nenhuma, só o site). Mas essa plataforma é a que mais cresce no mundo e é também uma das principais formas de aliciamento de crianças e adolescentes para uma trans-identificação. Movida por uma mistura de desespero, curiosidade, vergonha e senso de dever, lá estou eu no @nocorpocerto. Ainda estou aprendendo como mexer, mas vocês já podem me seguir clicando aqui.
Abraços e até a  próxima!
Eugênia Rodrigues
Jornalista
Porta-voz da campanha No Corpo Certo
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“Transativismo quase apagou minha lesbianidade”

Quando eu era criança, eu não tinha muitos amigos. O máximo que eu tinha era uma prima que eu brincava com ela: era mais amarelinha, cozinha, essas coisas “de menina”; eu não gostava de brincar de boneca quando eu tinha uns sete anos. Porém eu me lembro que mais nova (uns seis anos, por aí) eu tinha um boneco que eu andava pra todo canto com ele, lembro da minha mãe falar que “o boneco era meu filho” mas eu nem sabia o que era filho e nem que eu “estava brincando de cuidar de um filho” com seis anos. Aí fui crescendo e parei de brincar de boneca, coisas assim. Comecei a gostar de carrinhos e tal, e minha mãe falava que “era coisa de menino”, e eu nem me questionava sobre isso. Já na pré-adolescência (com doze anos) eu era chamada por todo mundo de “sapatona” porque eu usava roupas largas, não andava com meninas e jogava futebol na época da escola. Era o ano de 2005, eu não tinha senso crítico naquele período e a palavra sapatão era usada (e até hoje muita gente usa) no sentido ofensivo, visto que a sociedade é patriarcal e a heterossexualidade é compulsória. Fui criada em um ambiente católico conservador, então eu tinha que “parecer menina”. Na adolescência, foi o período que eu mais me lembro de ser submetida a feminilidade: eu usava maquiagem, roupas justas, tinha que ser “delicada” e coisas desse tipo. Eu detestava isso, não me sentia confortável usando essas coisas.

Com a puberdade, foi meio complicado: eu menstruei sem saber exatamente o que era menstruação porque na minha família nunca conversamos sobre isso. Lembro que na primeira vez que eu menstruei, minha mãe havia feito uma carta toda romantizada, falando que “eu virei mocinha” e coisas do tipo. Meu pai começou a pegar mais pesado comigo, não deixava eu sair de casa e dizia que com dezoito anos eu iria me casar e dar netos a ele (eu nem sabia o que era sexo, nada disso até essa idade). Com a adolescência chegando, eu comecei gostar de garotas: queria estar perto delas. Mas elas não queriam estar perto de mim, porque “eu era esquisita”. No começo dessa fase, com uns quinze anos, eu comecei a andar com os garotos e a “me identificar” como um: já que eu usava roupas largas, brincava de carrinho e jogava futebol, eu “era um garoto” e as garotas não queriam andar comigo por que elas não queriam ser “mal vistas” andando comigo. Eu me descobri lésbica com uns 15 para 16 anos, nesse período eu passei pela heterossexualidade compulsória, eu não poderia ser vista como “sapatão” porque isso era pecado e eu iria “envergonhar” minha família, então eu saía com garotas e garotos ao mesmo tempo. Com 17 anos eu namorei um único cara na minha vida, meu pai até conhecia ele, inclusive, e esse namoro durou uns cinco ou seis meses apenas. Eu nunca fiquei confortável estando com os caras. Eu só ficava com eles para “ser aceita na sociedade”. Com 18 anos eu me assumi lésbica, após a morte do meu pai – se ele estivesse vivo, provavelmente eu não teria coragem de me assumir. E o resultado foi bem forte, minha mãe disse que “é pecado/que eu fui corrompida/que eu vou pro inferno/é só uma fase” e coisas desse tipo. O tempo foi passando, ela percebeu que não era uma fase e foi “me tolerando”.

O primeiro contato que tive com o feminismo foi na faculdade, em 2015, e foi com a vertente liberal:  eu me aproximei dos queer/transaliados e achava que era um homem trans. Eu até tinha um nome: Ricardo! Eu fui acolhida de início, mas não sabia da violência que era a transição, o fato de você modificar (mutilar, na verdade) o seu corpo, somente porque você não se adequa nos estereótipos de gênero que foram impostos.

Dentro do próprio movimento trans, eu percebi uma contradição direta: eles falam que coisas/objetos no geral não tem gênero, mas, todas as pessoas trans baseiam sua vivência nesses estereótipos. Eu, por exemplo, achava que eu era trans somente porque gostava de coisas que a sociedade julga pertencentes ao gênero masculino (como ferramentas, roupas largas, máquinas e coisas do tipo)

E dentro da comunidade queer, eu lembro de ter perguntado: “o que é ser homem? O que é ser mulher?” A resposta era a mesma: é se sentir assim. E esse sentimento é regrado de estereótipos.

Notei que sempre que pessoas trans davam seus depoimentos, elas falam os mesmos estereótipos em comum, e eu percebi a contradição na hora.

Fui chamada de transfóbica e de “rad” sem se quer saber o que era, eu não havia iniciado a transição por uma única razão: motivo financeiro. Se eu tivesse dinheiro, eu teria iniciado a transição e provavelmente, me arrependeria muito.

Na internet, eu fui crucificada pelos ativistas liberais/queer/transaliados, mas, em contrapartida, eu fui acolhida por algumas feministas na época. Elas me indicaram a página “No corpo certo” e comecei a acompanhar, e realmente tudo ficou mais nítido na minha mente: ser uma mulher que não é feminilizada, não é ser homem! Eu sou uma mulher lésbica, que tem cabelo curto, usa roupas largas, não usa maquiagem, usa bota/coturno, não me depilo, e isso não me torna um homem. Gênero não é sobre a maneira como as pessoas se identificam, gênero é uma opressão estrutural no qual um grupo (homens) são beneficiados e nós mulheres, somos inferiorizadas.

Além do No Corpo Certo, que me ajudou nesse processo de aprendizado,  também havia um canal no YouTube chamando “Traduções de Gênero” no qual traduziam textos das feministas dos EUA para as mulheres que não sabiam falar inglês. Tive meu primeiro contato com a Magdalen Berns por meio desses vídeos, que eram traduzidos. A coisa mais importante foi o acolhimento. Eu realmente fiquei confortável ao estar com as feministas radicais, pois era mulheres acolhendo mulheres! E muitas delas inclusive também haviam passado por algo semelhante: o início no liberal/queer e depois foram para o radical. Então, a troca de experiências era mútua. Uma das coisas que mais me chocou, realmente, é o fato de incentivarem hormonização em “crianças trans”, visto que, a criança ainda está em formação (tanto fisicamente quanto intelectualmente) e a própria se identifica com fadas, heróis, vilões e qualquer coisa do imaginário infantil. Isso é, na verdade, uma extrema violência que acontece – baseado em uma pauta supostamente progressista.

O movimento trans compactua diretamente com o patriarcado e capitalismo. Eu, por exemplo, se tivesse transicionado, eu seria “um homem” e ao me relacionar com uma mulher, eu seria “heterossexual”. Penso que o transativismo é uma das formas de invisibilidade lésbica, como se fosse uma cura gay com glitter. A forma que poderíamos tentar amenizar os danos nocivos é, tentar incentivar as pessoas que a única solução seria a abolição de gênero, precisamos dialogar com as pessoas, dizer que gênero é uma construção social e que não é necessário mutilar o corpo para se adequar ao suposto gênero a qual a pessoa acredita pertencer. Nesse contexto, só temos um único problema: as pessoas não querem acordar desse discurso. Nos acusam de transfobia quando começamos a indaga-los sobre isso. É difícil o diálogo, quando o outro não está disposto a ouvir! Mas não podemos desistir. Precisamos sempre levar informações às pessoas, e sempre proporcionar um diálogo, se possível.

Vanessa