(AVISO: este texto contém imagens de nudez explícita e linguagem adulta, sendo inadequado a menores de idade).

(+18) O impacto da ideia de “maternidades trans” sobre mulheres, crianças e bebês: comentários diante de uma tela

 

(Por Eugênia Rodrigues

Jornalista

Porta-voz da campanha No Corpo Certo)

 

(Fonte. #pratodosverem: print do post de Instagram citado abaixo. O conteúdo da tela também é descrito abaixo).

 

No dia 25 de julho de 2022, um artista plástico chamado Chris Cortez compartilhou uma tela de sua autoria em seu perfil do Instagram. A obra se chama “La Nacimienta” (em português, “A Nascimenta”) e o post foi publicado com o seguinte aviso:

 

“esta foi a minha obra final para a minha tese sênior BFA.  eu trabalhei nela por cerca de 4-5 meses. ela é uma culminação de amor, solidão e simultaneamente autocrescimento.

obrigado a todos que me ajudaram a fazer desta pintura um sonho realizado para mim. valeu @stefanny_packk pela ajuda ❤️””.

 

Eu não conheço o artista e não sei suas opiniões sobre transgenerismo. Meus comentários sobre essa obra se baseiam nas impressões que ela despertou em mim, que foram similares às despertadas nos seguidores e seguidoras que me a enviaram.

Apesar de Cortez ter escolhido um nome feminino para a sua obra, passando a expressão “O nascimento” para o gênero gramatical feminino, apenas homens foram retratados, todos pintados à imagem e semelhança do próprio artista com pequenas variações na aparência. A figura no centro da tela performa uma caricatura do ato de dar à luz, abrindo bem as pernas e exibindo seu pênis. Esse rapaz também exibe um par de seios (os quais, em homens, só podem ser obtidos através do uso de hormônios sintéticos ou de próteses), um bigode (algo que, em regra, cresce apenas em meninos e homens) e usa brincos e batom (acessórios culturalmente associados a meninas e mulheres). Sua expressão sugere excitação sexual; talvez o próprio momento do gozo.

Esse indivíduo é ajudado por outros três clones seus que usam tiaras estilo “princesa”, também um acessório culturalmente associado ao sexo feminino: dois seguram suas pernas ajudando-o a mantê-las abertas e um terceiro segura a cabeça do “bebê” que estaria sendo “parido”. Abaixo da tela, mais um clone, este exibindo o torso sem seios característico dos homens e deitado languidamente sobre o mar; um foco de luz ao mesmo tempo tapa e chama atenção para seu pênis. Sobrevoando a tela, mais um clone de Cortez, um “anjo” que “anuncia ao mundo” aquela “concepção/Conceição”, o “milagre” do homem que é “mãe”. O “anjo” é a única figura que não está em completo estado de nudez; um pequeno manto azul o cobre da cintura para baixo. Finalmente, vê-se o clone-bebê de Chris, que já nasce com o bigode do artista. 

A tela é, ao mesmo tempo, repugnante e útil. Ela resume o que é a ideologia “trans” em geral e, em especial, a farsa de que homens poderiam ser “mães”.

As mulheres foram excluídas. A figura masculina está não só em destaque, mas apenas ela existe: ela e suas fantasias. Foram e são essas fantasias que guiaram e foram guiadas pela medicina “trans” e redundaram nas políticas públicas cujo impacto sobre a sociedade não podem mais ser ignorados, como a hormonização infanto-juvenil e a destruição dos espaços separados por sexo. São os conceitos que esses senhores inventaram que foram ensinados em universidades com pequenas mudanças ao longo do século: “transexualismo”, “transexualidade”, “transtorno de ´identidade de gênero´”, “identidade de gênero”, “transgeneridade”, “cisgeneridade”, “criança trans”, “infâncias queer”, “transfeminismo”. São os estereótipos que eles reforçam os repetidos, diariamente, pelas mães e pais que eles mesmos orientam e que, obedientemente, rotulam seus filhos, filhas (e agora “filhes”, risos) de “trans”. Ele é tudo e todos, “a medida de todas coisas”: é mulher, mãe, é a doula ou a parteira, é a “Vênus” que nasce sexy do mar, o anjo que anuncia a chegada de seu filho e é seu próprio filho. O transgenerismo, embora seja empurrado também por mulheres (as que se dizem “homens trans”, “não-binárias” etc. e as que seguem essa ideologia), reflete, primordialmente, uma fantasia masculina e narcisista. Que goza, inclusive literalmente, em fetichizar a realidade das meninas e mulheres.

Esse fetiche, em maior ou menor grau, será necessariamente sexual, pois mulheres são seres humanos do sexo feminino. O que médicos tentam reproduzir em homens são as características sexuais de meninas e mulheres, os genitais que eles decepam dos homens são órgãos sexuais, o que eles inibem, nos meninos e meninas a quem prescrevem hormônios sintéticos bloqueadores de puberdade, é o desenvolvimento das características sexuais que advêm no início da adolescência. O que não significa que todos lidarão da mesma forma com esse fetiche, é claro; não necessariamente o “se ver como uma mulher” será usado como forma de gratificação sexual. E trata-se de um fetiche invasivo, pois ultrapassa a pessoa do fetichista e dos adultos que voluntariamente escolhem participar dele, obrigando a sociedade a legitimá-lo – agora, sob pena de criminalização (“transfobia”). Um fetiche que não conhece limites e que  redundou na criação de um tipo de ser humano que não existia antes: um adolescente que tem, na certidão de nascimento, idade mínima para consentir com relações sexuais (14 anos, no Brasil) mas cujo corpo, graças aos hormônios sintéticos bloqueadores de puberdade aplicados em ambulatórios de “identidade de gênero”, permanece… infantil. Assim, na atualidade, um adulto pode ter relações sexuais, dentro da mais perfeita legalidade, com adolescentes que têm corpo de criança. Se você pensou em pedofilia, não está só.

No século passado, os pacientes homens que recebiam diagnósticos baseados em “gênero” se contentavam com o título de “homens transexuais”. Neste século, contudo, eles foram além, exigindo a palavra que usamos, há milhares de anos, para nos definir: mulheres. Com e os sem modificações corporais, agora se dizem “mulheres trans” e mesmo os que preferem o rótulo travesti exigem ser chamados agora de a travesti, como se fosse possível, a um homem, qualquer mulheridade a legitimar o uso de um pronome feminino.  Em breve, os recursos do SUS, que rareiam para garantir o tratamento do câncer ou uma mamografia mas vão para ambulatórios de “gênero”, serão desviados também para pagar os implantes dos nossos úteros neles. E sabe-se lá (ou sabe-se bem?) de quais mulheres esses úteros sairão.

A autoginefilia é um fato. O Dr. Ray Blanchard fala disso desde os anos 80!

Eu sei que nem todas as pessoas que legitimam o “discurso trans” concordam com homens se autodeclarando “mães”. Contudo, esse é um desdobramento lógico; se podem ser mulheres, então todos os aspectos da mulheridade também podem, em tese, ser reivindicado por eles, ainda que nem todos façam uso dessa faculdade. Assim, homens heterossexuais podem ser “mulheres trans lésbicas”, homens negros podem ser “mulheres trans negras”, filhos e sobrinhos serem “filhas e sobrinhas trans”, meninos serem “meninas trans”, tios e avôs podem tias e avós e pais, sejam eles biológicos ou adotivos, “mães trans”. Qualquer flexibilização da palavra mulher permite isso e portanto coloca em risco os nossos direitos; há anos aguardo que me provem o contrário. Ou existem os direitos de mulheres e meninas, ou existem “direitos trans”; exemplificando, ou um banheiro é separado por sexo, ou por “gênero”. Como dizem em inglês, you can´t have both, você não pode ter os dois. Ou, relembrando o brasileiríssimo clássico de Cecília Meireles, “Ou isto ou aquilo”.

Além de sugerir, involuntariamente, a incompatibilidade entre o discurso e as políticas “trans” com os direitos de meninas e mulheres, a tela de Chris Cortez mostra também o lugar de crianças e bebês num mundo em que o transgenerismo é legitimado: considerando que homens não têm órgãos femininos que os tornem aptos a engravidar e dar à luz, fica subentendido que esse bebê está sendo excretado pelo ânus. Como fezes.

Porque o lugar de crianças e bebês, quando mulheres são reduzidas a um sentimento, é o de não-sujeitos, de objetos. No caso de crianças e adolescentes levados a ambulatórios de “identidade de gênero”, eles são objeto não só dos profissionais que lucram com os adultos que se crêem “trans”, mas também de seus próprios pais e dos outros adultos que impulsionam a ideia de “transição” infanto-juvenil, como os próprios indivíduos trans-identificados. Alguns, inclusive, as estão atendendo na qualidade de profissionais de saúde mental, como se pudessem fornecer um olhar independente sobre esse tema estando, eles próprios, em óbvia negação da realidade. Como sempre digo, a “criança trans” não foi inventada apenas para médicos ganharem mais dinheiro, mas também para legitimar o “adulto trans”. E, no caso de bebês, você encontra facilmente reportagens sobre “maternidades trans”, conforme se vê das buscas abaixo.

(#pratodosverem: resultado de busca no Google pela expressão “maternidades trans”).

 

Homens estão simulando a amamentação. Fazendo desse ato uma piada, uma paródia. Submetendo bebês a sugar mamilos dos quais nada sairá ou de onde sairá uma secreção produzida artificialmente por hormônios sintéticos e cujos efeitos na saúde dos recém-nascidos são desconhecidos. Esses bebês e crianças estão levados a naturalizar a dissociação corporal de seus pais e a acreditar que seu pai é sua mãe (e que sua mãe é seu pai, no caso daqueles cujas mães são mulheres que exigem ser vistas como homens). Suas certidões de nascimento carregam um dado que configura uma falsidade ideológica legitimada pelo Estado e uma falsidade ideológica dupla, pois eles não são nem mulheres, nem mães desses meninos e meninas. No caso dos que escolhem praticar a chamada “amamentação trans”, está sendo sugerido a estes garotos e garotas que sugar os mamilos de seu pai seria uma prática normal, quando não é! Há quase um ano atrás, no dia 18 de novembro de 2021, compartilhamos em nosso Instagram a imagem abaixo, retirada da série documental “9 months with Courteney Cox” (“9 meses com Courteney Cox”), temporada 3, episódio 8. A cena pode ser encontrada em diversos vídeos no Youtube, como este , e mostra um homem adulto colocando um bebê para sugar seus mamilos. A legenda, em inglês, da fala dele nessa cena do documentário diz: “Are they getting milk?”/”Eles estão tomando o leite?”. O uso do pronome “eles” para um único bebê indica que o casal “trans” está utilizando pronomes “neutros”/”não-binários” para o filho.

(#pratodosverem: print de um post no nosso Instagram que mostra um homem adulto colocando um bebê para sugar seu mamilo. Nosso post contém a frase “A pedofilia já foi legalizada. O nome dela é DIVERSIDADE”).

Vale refletir, também, que a ideia de “paternidade trans”, a de que a paternidade poderia ser exercida por uma mulher em dissociação, coloca os bebês em um destes dois lugares difíceis: o de não usufruírem dos comprovados benefícios do leite materno ou de sofrerem com os efeitos da testosterona que suas mães tomaram ao longo da vida e, eventualmente, até mesmo tomam ainda, enquanto amamentam, já que não temos como controlar quando elas ingerem essas substâncias. Em ambos os casos, “maternidade trans” ou “paternidade trans”, os bebês são objeto das fantasias, ideologias e autopercepções dos pais, bem como da ganância de profissionais de saúde em oferecer um “tratamento” antiético, baseado numa mentira.

Lamentamos, profundamente, que esses serviços também sejam oferecidos por profissionais que fazem parte do movimento pelo parto humanizado, também chamado de parto respeitoso. Conforme denunciaram à nossa campanha doulas  que preferiram se manter anônimas, boa parte desse grupo se rendeu ao nicho de mercado da “saúde LGBTIQP+” e tenta convencer seu público de que não haveria contradição entre combater a episiotomia e praticar a extirpação de seios saudáveis, entre ensinar métodos anticoncepcionais para além da pílula e prescrever testosterona sintética a mulheres se aproveitando de suas questões de saúde mental, entre incentivar o aleitamento materno e apoiar a retirada desses mesmos seios, entre pregar que recém-nascidos devem vir ao mundo da forma mais acolhedora possível e, ao mesmo tempo, ajudar homens a parodiar a amamentação nesses mesmos pequenos e mulheres a envenená-los com testosterona. 

A fantasia de que homens poderiam ser mulheres, engravidar e conceber não é nova. Há muito se fala, em contraposição à famosa ideia de “inveja do pênis”, em “inveja do útero”. Mary Daly, no distante ano de 1978, comentava em seu Gyn Ecology (algo como “Gine/Ecologia”) sobre os mitos de Atena e Dionísio, ambos “paridos” por seu pai Zeus. E advertia:

 

“A invasão e eliminação necrófila dos nossos limites tem um grande número de formas. O transexualismo é um exemplo de homens cirurgicamente fazendo papel de pais e invadindo nosso mundo com substitutos. A ‘maternidade masculina’ através na manipulação genética é uma tentativa de criar sem mulheres. A confecção de úteros artificiais, projetada por homens, de ciborgues meio-humanos e meio-máquinas, de clones – todos são manifestações da violação falotécnica de limites.” (DALY, 1990, página 17).

 

O transgenerismo é incompatível com os direitos de mulheres, crianças e bebês. Apenas num mundo que coloca esses três grupos na subalternidade as políticas “trans” poderiam ter sido pensadas e implementadas. Travestido (com trocadilho) de um “movimento social” pelos “Direitos Humanos”, estamos diante de um processo de desumanização de mulheres, crianças, bebês – e também dos próprios homens que alegam sua retirada da classe dos homens, ainda que eles também possam se beneficiar disso, como por exemplo capitalizando isso politicamente. O impacto para os homens comuns também é significativo; basta ver o que está acontecendo com os trabalhadores na área de segurança sendo atacados por transativistas depois de os direcionarem para o banheiro masculino (aliás, onde estão os políticos que dizem apoiar os trabalhadores?). Quanto antes nos conscientizarmos de que a conciliação não é possível e que o único caminho é a verdade, melhor.