(por Eugênia Rodrigues

Jornalista

Porta-voz da campanha No Corpo Certo)

 

5 motivos para as “candidaturas trans” terem decolado nas eleições de 2022

 

O primeiro é que existe um considerável número de pessoas que detestam ou, simplesmente, não se importam com crianças. Inclusive quem diz que as está defendendo – na verdade, está instrumentalizando a infância. Essas pessoas não se importaram de eleger parlamentares que impulsionam a ideia de “crianças  e adolescentes trans e travestis” e a mutilação de corpos infanto-juvenis em ambulatórios de “identidade de gênero”, nem o impacto sobre as meninas de terem alunos biologicamente meninos em seus banheiros e vestiários. Elas não se importam, também (ou sequer pararam para pensar) que tornaram difícil ou quase impossível a aprovação do projeto de lei que visa a proteger os corpos de meninos e meninas em sofrimento ou confusão com seu sexo, o PDL n° 19/2020.

O segundo é que também existe um considerável número de pessoas de ambos os sexos que não se importam com o que está acontecendo com as meninas e mulheres. A destruição dos nossos espaços separados por sexo, por exemplo, é vista como um preço que nós temos que pagar pela “inclusão trans” ou até mesmo como algo “revolucionáriE” e “libertador”.

Mais: falta consciência de classe sexual nas mulheres, inclusive as que se dizem parte de movimentos sociais. Mesmo quando essa consciência existe, pesa a dificuldade de nos organizarmos entre nós; tudo é motivo para divisão, brigas, abandono da causa. Enquanto transativistas formam um bloco hegemônico mesmo com todas as diferenças como partido, raça, orientação sexual etc., muitas de nós nós não conseguem sequer conversar com uma mulher que vota diferente na gente. Precisamos desenvolver um olhar mais independente e pragmático, dialogar mais entre nós com serenidade e maturidade, buscar o que temos em comum em meio ao que nos afasta. E o que temos em comum é o sexo, da Simone Tebet à Luiza Erundina, da Ministra Damares à Gabriela Lima (eu a cito porque foi a única candidata a deputada federal a responder ao perfil Elas Definem que mulheres são seres humanos do sexo feminino). Não é possível garantir direitos baseados em sexo apenas para aquelas com quem nos simpatizamos e isso nem seria desejável; qualquer mulher tem o direito a um banheiro separado por sexo, por exemplo. Centrar nisso, com o perdão do pleonasmo, é central. A desunião das meninas e mulheres é um projeto.

O curioso é que, embora muitas e muitos dos que legitimam essa psicodelia se afirmem defensores das mulheres e até feministas, não vêem a ironia de que os eleitos são homens que se autoidentificam como “T” e não mulheres que fazem o mesmo. Estas, que se declaram “homens trans”, continuam invisibilizadas na política (com raríssimas exceções), porque mulheres e meninas são invisibilizadas na política e é isso o que elas são e sempre serão, por mais difícil que seja, para elas, entender isso. O que se chama de “inclusão trans na política” é a inclusão de homens, os quais já eram incluídos na política; ninguém foi excluído da política por ser homem; o foi por questões outras (por exemplo, o voto já foi proibido a pessoas pobres, negras e a mulheres, claro). Estes senhores estão mantendo o poder político nas mãos de quem ele sempre esteve, ganhando eleições e medalhas nos esportes, enquanto as mulheres que se declaram homens são notícia por engravidarem e darem à luz. Eles continuam no espaço público e até avançando enquanto elas estão restritas aos espaços privados… embora os que apóiam o transativismo costumem se ver como avançados, são muito mais atrasados do que imaginam.

Uma amiga que critica abertamente esse negacionismo declarou, ao ver as vitórias desses senhores, que se sentiu fracassada. Respondi que não foi culpa nossa e que se nós não existíssemos, em vez de um punhado seriam dúzias. E completo: nós continuaremos a lutar por nós e pelas nossas crianças; nada foi fácil para quem está em um desses dois grupos. É a única saída.

A terceira razão é que uma parte grande do eleitorado (em especial o progressista e jovem, mas não só) não pratica um voto consciente, mas o que batizei de “voto penitente”. Buscam, com o seu voto, não eleger alguém que tenha uma história política e conquistas concretas (como um projeto de lei aprovado) ou propostas reais para o futuro, mas sim aliviar sua culpa de classe média ou alta. Querem se ver como virtuosos, “purificados” agora: “eu elegi uma trans”. Transativistas (mas não só eles; outros ativistas também) são hábeis em explorar essa culpa, seja para ganhar votos, dinheiro, cargos em comissão, “likes”, vantagens variadas” . Esse “voto penitente”, que se apresenta como politizado, é integralmente despolitizado: algumas leitoras me contaram que, ao questionarem o voto de amigos, ouviram em vez de argumentos racionais coisas do tipo “porque eles sofrem”, “precisamos de representatividade trans”, “ela é uma mulher trans e preta” etc.

O quarto fator é o financeiro. Estamos falando de uma ideologia que é impulsionada por uma indústria, por financiamentos internacionais, por magnatas disfarçados de filantropos como George Soros. Com dinheiro, tudo fica mais fácil: a imprensa dá visibilidade, os partidos abrem as portas, as empresas aderem e os “militantes” não só abaixam a cabeça como também chamam seus seguidores para aderir também. Aliás, boa parte dos militantes (ou seriam meros influencers?) é financiada e está mais preocupada em ganhar dinheiro, editais e projeção do que realmente construir uma sociedade igualitária. Como dizem em língua inglesa, “Follow The Money“, “Siga o Dinheiro”.

A quinta razão é polêmica, eu sei. Mas precisamos ser honestas (os) mais do que nunca e a verdade é que… bem, pessoas estúpidas existem. Eu sei que é desconfortável a gente admitir isso; gostaríamos de acreditar que seres humanos são, no máximo, desinformados. Mas não dá mais para falar em desinformação quando pelo menos uma consequência visível das políticas “trans”, que é o fim dos esportes separados por sexo, circulou intensamente na mídia. Mesmo que você explique, com toda a paciência e didática, que se seres humanos não mudam de sexo um homem não pode ser mulher e nem vice-versa, e que fingir que isso é possível está destruindo os corpos de meninos e meninas e os espaços das mulheres e meninas, que um banheiro não pode ser ao mesmo tempo dividido por sexo e por “gênero”, que um homem querer casar com outro homem é muito diferente de ele se dizer uma mulher… muitas delas simplesmente não conseguirão entender.  Elas continuarão repetindo as mesmas coisas, como bonecos de ventríloquo, fantoches, gravadores, membros de seitas.

Eu já fui uma das que legitimavam essas ideias que, hoje, sei serem negacionistas e perigosas. E não tenho vergonha de admitir (ok, tenho um pouco, porque eu nem tinha a desculpa de ser muito jovem na época). Como muita gente enganada pela sigla “LGBT”, eu acreditei que o “T” fosse a continuidade do chamado “GLS”. Contudo, como no meu caso era desinformação e não falta de inteligência, assim que a informação chegou até mim eu a compreendi e mudei de opinião.

Poderíamos citar outros motivos, mas fico por aqui. Melhor: finalizo este breve texto com uma frase retirada do seriado chamado “Além da Imaginação” (“Twilight Zone”), um remake (aliás, esse o nome dessa série resume bem a psicodelia de “gênero”, não?). O crédito é do perfil “Um filme me disse” no Facebook: ”A sociedade é um ecossistema frágil. Confunda as pessoas com as mentiras certas… e elas ficarão cegas para a loucura bem diante dos seus olhos”.

(Fonte. #pratodosverem: um homem negro de terno com uma cortina ao fundo, aparentemente sobre um palco, com a legenda mencionada anteriormente).