“É para ser uma entrevista mais… espiritual e menos médica”, ordena Jeanette Jennings ao filho Jazz em um dos episódios da série “I am Jazz” (“Eu sou Jazz”), do canal TLC (a  frase pode ser conferida aos 2 minutos e 11 segundos do vídeo lançado pelo ótimo canal Exulansic). Jeanette sabe que não é bom para os negócios que o adolescente fale dos problemas de saúde causados por hormonizações e cirurgias na BBC. O papel dos meninos e meninas rotulados de “trans” é repetir frases como “finalmente estou sendo quem eu realmente sou”, “nunca me senti tão feliz”, “pela primeira vez me sinto completo”, “a equipe multidisciplinar é maravilhosa” etc.

(#pratodosverem: print de tela com a imagem de Jeanette, uma mulher loira de cabelos compridos, e a legenda.)

Eu não acompanho a série “Jazz”; vejo um ou outro vídeo no Youtube e leio sobre os desdobramentos em sites variados. As cenas que vi me deixavam chocada: as pessoas mentindo que Jared pode ser uma menina, o autoritarismo da mãe (Munchausen by Proxy?), a passividade do pai, a monstruosidade dos médicos, a busca pelo lucro a qualquer preço por parte da família e do canal que veicula o programa. E não me conformo em viver num mundo em que tantos celebram ou são indiferentes à castração química e cirúrgica de um garoto que apenas apresentava comportamentos fora do padrão. Um mundo em que lobistas aparelharam praticamente todas as instituições do mundo ocidental e padronizaram a infância enquanto falam em “diversidade”.

Jazz não está bem. Depressão, ansiedade transtornos alimentares, adiamento da faculdade, delicadas questões afetivas. O adolescente fala abertamente sobre isso em suas redes (e que opção teria se, por contrato, sua vida precisa ser um “livro aberto”?).

Jazz Jennings 'humiliated' by 100-pound weight gain

Imagem

(#pratodosverem : acima, uma foto de Jazz sério exibindo um abdômen proeminente. Abaixo, à esquerda, uma foto de Jazz com cerca de um ano de idade sorrindo lambuzado de bolo e usando um chapeuzinho de aniversário. À direita, o print da tela de seu perfil de Jazz nas redes sociais, já um jovem adulto, cobrindo o rosto. A frase que diz, em português, é: “ansiedade incapacitante & depressão têm afetado minha vida por tantos anos”).

Fico satisfeita que uma de nossas leitoras, Andréa Gabriel, tenha nos enviado um texto no qual compara a série ao ótimo filme “O Show de Truman”. Aliás, vale a pena ver ou rever essa obra e comparar a vida de Truman à de Jazz, ambos indivíduos que cresceram sob as câmeras e para quem todos à sua volta mentiam. No filme (perdão pelo spoiler), os espectadores exigem que Truman seja libertado do reality e lançam a campanha #FreeTruman (“LibertemTruman”).

Free Truman Poster | The Truman Show | ReplicaPropStore

Nós nos juntamos a outras pessoas do mundo todo e pedimos, como o título do texto que se segue: #FreeJazz. Libertem Jazz.

Abraços e até a próxima.

Eugênia

Free Jazz!

 

Quando o filme “O show de Truman” foi lançado em 1998 como uma crítica ácida aos reality shows, era inimaginável que utilizariam crianças nesse tipo de programa. Hoje, quase 20 anos depois, além de crianças temos um experimento humano televisionado: “I am Jazz”. Um programa em que um menino “afeminado” é “transformado” – aparentemente – em uma menina através de procedimentos médicos experimentais e irreversíveis.

Ainda na primeira infância, Jazz Jennings, foi rotulado como “trans”. A maioria das crianças que se autodeterminam “trans” apenas desejam participar de atividades usualmente relacionadas ao sexo oposto – o que, definitivamente, deveria ser aceito. Não há problema algum em um menino se vestir de rosa ou fazer balé. A decisão de rotular a criança como “trans” obviamente vem do seu entorno, já que na primeira infância a criança aceita a realidade do mundo que lhe é mostrada. Na maioria dos casos, a motivação vem da homofobia dos pais que preferem “uma filha trans” a um filho homossexual, como relatam os pais de muitos “trans” sem constrangimento algum, no Brasil e no exterior. Jazz Jennings, sob a mira dos espectadores, não pôde se desenvolver como um ser humano normal; seu crescimento foi comprometido por hormônios bloqueadores de puberdade e do sexo oposto. Debaixo dos holofotes, acompanhamos o que é, repita-se, um experimento humano e que vem se realizando desde a primeira infância do rapaz.

Experimentos com humanos, em especial com crianças, só foram permitidos e registrados no regime da Alemanha nazista com crianças que já não contavam com a proteção dos pais. Contudo, hoje, curiosamente, parece que atrapalhar o desenvolvimento natural e castrar os filhos é considerado por muitos como algo moderno e até progressista. Aos seis anos de idade, Jazz já participava de programas de televisão como “uma garota trans”. Com seis anos de idade, que criança pode tomar uma decisão tão relevante como denominar-se “trans”? Sob os holofotes da mídia, Jazz jamais teve a oportunidade de viver livremente. Ninguém jamais lhe explicou que ele poderia ser um homem gay, “afeminado” e feliz. Essa opção nunca existiu.

A quem devemos e/ou podemos culpar por transformar sua vida numa farsa?

Seus pais? Médicos? O canal de televisão? Ou até  a audiência do programa?!

Ninguém jamais se questionou da total falta de ética que é assistir à vida de uma criança se transformar num experimento televisionado? Pior ainda – para o entretenimento dos demais? Ninguém?

Que opções foram dadas a Jazz?

Todas as suas experiências de vida foram criadas intencionalmente para condicionar sua forma de ser, um prisioneiro eterno da projeção que lhe foi apresentada como realidade.

Assim como o criador de Truman, o personagem Cristoff, que acredita que deu ao protagonista uma oportunidade de viver uma vida normal, a mãe de Jazz deve pensar o mesmo – mas o que é uma vida normal? Ser castrado cirurgicamente as 17 anos de idade? Ter sua vida íntima exposta e detalhes da sua cirurgia sendo esmiuçados para o público? A cirurgia foi infeliz e resultou em um desastre onde até os médicos tiveram que confessar que Jazz talvez jamais tenha uma vida sexual satisfatória. Após a cirurgia, em um dado momento, ele demonstra todo o seu estresse se negando a ir à escola e até emitindo dúvidas a respeito dos procedimentos. Em função da ansiedade, encontra como válvula de escape a comida e aumenta de peso. Sugeriram sessões de hipnose para o controle alimentar. Durante uma intrigante sessão de regressão, ele  revela que, numa vida passada, era um homem gay que foi abandonado pela sua família!

Seria uma confissão?! Uma clara tentativa de revelar quem realmente sempre foi?! Ou, pior ainda, será que misticamente o ciclo de rejeição familiar se repete?!

Como não questionar este momento tão eloquente?

Transformar um pênis em uma “neovagina” é uma cirurgia difícil e, no caso do adolescente, foi ainda mais difícil: com os efeitos dos bloqueadores de puberdade, o jovem não pôde desenvolver normalmente suas características sexuais secundárias. Estas foram bruscamente freadas com medicamentos e o crescimento normal dos seus órgãos sexuais masculinos foi comprometido. Sem material para trabalhar, a “neovagina” teve que ser construída com pedaços do colón. E, para piorar a situação, em um dado momento os pontos partem… Os detalhes são em nauseantes.

Ter um stress pós-traumático em uma situação como essa é humano, mas Jazz não tem direito ao arrependimento;  isso atrapalharia o grande objetivo de vender este experimento humano como um procedimento seguro. Até fingem que a compulsão alimentar não teria nenhuma relação com as intervenções cirúrgicas e a infelicidade de um mundo fantasioso. O programa segue com um público ávido por qualquer novidade.

Lamentavelmente, à exceção de algumas hashtags no Twitter, não há um movimento pela libertação de Jazz, como havia no “Show de Truman”. No filme, muitos queriam ver Truman livre, longe do programa, vivendo uma vida comum. O que está acontecendo com os telespectadores atuais?! Estariam todos cooptados pela fantasia perversa do universo queer? Nos falta empatia? Ou sobra homofobia?

Escrevo este texto entre lágrimas sabendo que procedimentos irreversíveis estão sendo vendidos como água a meninos e meninas pelo mundo afora, sem que os efeitos colaterais e outras opções lhes sejam oferecidas. Enquanto isso nos resta afirmar: Ninguém nasce no corpo errado, estamos sempre no CORPO CERTO. #FreeJazz !

A complication, 'crazy pain,' as South Florida trans teen Jazz Jennings gets confirmation surgery - South Florida Sun Sentinel - South Florida Sun-Sentinel

(#pracegover: foto de Jazz com rosto exibindo dores. A foto foi tirada quando das complicações de suas cirurgias íntimas).