Cara leitora ou caro leitor,

 

existem pessoas que se autodeclaram “trans” que são críticas à “transição” de crianças e jovens. Pode ser por considerarem que suas vidas pioraram  depois da “transição”, por terem dúvidas se valeu a pena e ou por reconhecerem que menores de idade não têm discernimento suficiente para compreender e consentir com o que é chamado, eufemisticamente de “mudança de gênero”. Você provavelmente não irá ver essas pessoas dando entrevistas no “Fantástico”, no “Mídia Ninja” e nem posando ao lado de políticos que empurram políticas de “identidade de gênero”, mas elas existem – inclusive, se você se inscreveu em nosso canal do Youtube, deve ter visto o recente vídeo de uma delas alerta para o impacto dos hormônios bloqueadores de puberdade em crianças. Como primeiro texto deste mês, traduzimos o depoimento de Corinna Cohn, um homem que se autodeclara mulher e que se submeteu a modificações corporais irreversíveis quando tinha apenas 19 anos. O texto foi publicado no jornal Washington Post no dia 11 de abril de 2022 e pode ser lido aqui (com paywall) e aqui (sem paywall). O título original traduzido seria “O que eu queria que eu soubesse quando tinha 19 anos e passei pela cirurgia de redesignação sexual”.

A nossa maior preocupação – nós, que fomos adolescentes há muito tempo –  ao sair da escola era passar no vestibular, conseguir um emprego, sair da casa dos pais e ou curtir a vida com nossos amigos e amores. Em apenas 10 anos, isso mudou: garotos e garotas estão obcecados por pronomes, “gêneros” inventados e uma parte deles está iniciando a vida adulta com corpos permanentemente modificados em ambulatórios de “identidade de gênero” públicos ou consultórios particulares. A falsa ideia de que haveria algo de errado com seu sexo biológico é reforçada diariamente pela mídia e até mesmo nas escolas, onde os pais tendem a acreditar que sua prole estaria segura. Através da sigla “LGBT”, os colégios, famílias, alunos e autoridades foram convencidos de que ser “LGB” (lésbica, gay ou bissexual) seria comparável ao “ser T” quando seres humanos não-heterossexuais existem, mas seres humanos que mudam de sexo não existem; nenhuma “transição” é real. Falando nessa sigla, fomos informados no início de abril de que, no dia 10 de abril de 2022, no colégio Pedro II de Realengo, no Rio de Janeiro, capital, seria realizado um evento alinhado a ela; coincidentemente, algumas mães que seguem nossas redes confidenciaram que conhecem vários alunos desse tradicional colégio, no qual esse acrônimo tem forte atuação, declarando uma autoidentidade “trans”. O link para a divulgação do evento no Instagram está aqui .

Eu não sei se a instituição costuma avisar aos pais com antecedência acerca dessas atividades e nem se elas são obrigatórias. E pouco adianta reclamar às autoridades, pois elas já foram capturadas: prefeituras, Estados, governos federais, defensorias, promotorias, partidos políticos, militantes, universidades… quase todas, senão todas as instituições cederam à indústria da “identidade de gênero” – repare que na imagem de divulgação, além da “Escola de Divines” (? “divines”?!) estão o nome e a logo do Governo do Estado como apoiador, ao lado dos do “Rio sem LGBTfobia” (que já foi o programa “Rio sem Homofobia”) e do “Centro de Cidadania LGBTI”. As universidades públicas têm até mesmo estímulos explícitos à “trans-identificação”, como as disputadas vagas para a pós-graduação para quem quer que se autodecle “trans”, conforme você pode conferir vendo os recentes editais de processos seletivos da UNICAMP e da niversidade Federal de PelotasPrivilégio é isso: um grupo conseguir vantagens sobre todo o resto da população apenas por dizer que seria alguma coisa.

Que nas eleições de 2022 se candidatem políticos que olhem realmente pela infância e a adolescência em vez de se limitarem a explorar a imagem delas em propagandas eleitorais. Que tenham coragem em vez de subserviência a transativistas e as perseguições diárias que promovem. Nós nos solidarizamos com a situação da nossa seguidora e mãe Verônica Moraes, do Rio de Janeiro, cuja segurança e de sua família estão em risco por causa do lobby “LGBT” do PDT, o próprio partido ao qual ela é filiada. Falando em políticos, as britânicas, sempre à frente do resto do mundo, lançaram dias atrás a campanha “Respect my Sex” (“Respeite meu sexo”) dirigida a eles; a iniciativa já ganhou uma versão em português da WDI Brasil, a “Útero na Urna”

O seu voto, nas eleições de 2022, pode significar a continuidade ou o fim da hormonização de crianças e adolescentes nos ambulatórios de “identidade de gênero” do Brasil. Pense nisso.

 

Abraços e até a próxima.

 

Eugênia Rodrigues

Jornalista

Porta-voz da campanha No Corpo Certo

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Opinião: o que eu queria que eu soubesse quando tinha 19 anos e passei pela cirurgia de redesignação sexual

Corinna Cohn, desenvolvedora de software em Indianápolis, é membro da Rede de Defesa dos Consumidores de Cuidados de Gênero.

 

Quando eu tinha 19 anos, passei pela cirurgia de redesignação sexual (1), ou aquilo que agora se chama cirurgia de afirmação de gênero. O jovem inexperiente que estava obcecado com a transição para a mulheridade não poderia imaginar que chegaria à meia-idade. Mas agora estou mais perto dos 50 anos, de olho no meu 401(k) (2) e fazendo dieta e exercícios na esperança de ter uma aposentadoria saudável.

Pensando nas minhas prioridades e interesses de hoje, aquela encarnação mais jovem de mim mesma também poderia ter sido uma pessoa diferente – no entanto, foi aquela pessoa que me comprometeu a uma vida inteira separada dos meus pares.

Há hoje muitos debates sobre o tratamento transgênero, especialmente para os jovens. Outras pessoas podem pensar de forma diferente sobre as suas escolhas, mas sei agora que eu não tinha idade suficiente para tomar aquela decisão. Dadas as intensas forças culturais de hoje que lançam uma luz benigna sobre estes assuntos, achei que poderia ser útil para os jovens e para os seus pais ouvir o que eu gostaria de ter sabido.

Um dia, acreditei que teria mais sucesso em encontrar o amor como mulher do que como homem, mas na verdade poucos homens heterossexuais estão interessados em ter uma relação física com uma pessoa que nasceu com o mesmo sexo que eles. No Ensino Médio, quando experimentei paixões pelos meus colegas, acreditei que a única forma de aqueles sentimentos serem correspondidos era se eu alterasse o meu corpo.

Acontece que vários desses amores também eram gays. Se eu tivesse confessado o meu interesse, o que poderia ter acontecido? Infelizmente, a homofobia desenfreada na minha escola durante a crise da AIDS sufocou quaisquer ideias como essa. Hoje, me resignei em nunca encontrar um parceiro. Isso é difícil de admitir, mas é a coisa mais saudável que posso fazer.

Quando eu era adolescente, sentia repulsa à ideia de ter filhos biológicos, mas na minha visão do meu futuro enquanto adulto, imaginava casar com um homem e adotar uma criança. Parecia fácil sacrificar a minha capacidade reprodutiva em busca da realização do meu sonho. Anos mais tarde, fiquei surpreendida com as dores que senti quando os meus amigos e a minha irmã mais nova começaram as suas próprias famílias.

Os sacrifícios que fiz pareciam irrelevantes para o adolescente que eu era: alguém com disforia de gênero, sim, mas também ansiedade e depressão. A causa mais grave de pavor veio do meu próprio corpo. Eu não estava preparada para a puberdade, nem para o forte impulso sexual típico da minha idade e sexo.

A cirurgia me libertou dos impulsos do meu corpo, mas a destruição das minhas gônadas introduziu um tipo diferente de escravidão. Desde o dia da minha cirurgia, me tornei um paciente médico e continuarei a sê-lo para o resto da minha vida. Tenho de escolher entre os riscos de tomar estrogênio exógeno, que incluem (3) tromboembolismo venoso e o AVC, ou os riscos de não tomar nada, o que inclui a degeneração (4) da saúde óssea. Em qualquer dos casos, o meu risco de demência (5) é mais elevado, um efeito secundário de bloquear a testosterona.

O que eu buscava com o meu sacrifício? A sensação de completude e perfeição. Eu ainda era virgem quando fiz a cirurgia. Acreditava erroneamente que isto tornava a minha escolha mais séria e autêntica. Escolhi uma mudança irreversível antes mesmo de ter começado a compreender a minha sexualidade. O cirurgião considerou a minha operação um bom resultado, mas as relações sexuais nunca foram agradáveis. Quando conto isso aos amigos, eles ficam tristes com a perda, mas para mim é algo abstrato – não posso lamentar a ausência de uma coisa que nunca tive.

Onde estavam os meus pais nisso tudo? Eles sabiam o que eu estava fazendo, mas a essa altura eu já os tinha empurrado para fora da minha vida. Não precisava dos meus pais me questionando ou estabelecendo expectativas realistas – especialmente quando encontrei tudo o que precisava na internet. No início dos anos 90, algo chamado Internet Relay Chat, um fórum on-line rudimentar, me permitiu encontrar estranhos com a mesma mentalidade e que ofereciam uma fonte inesgotável de validação e aceitação.

Tremo ao pensar em como os meios de comunicação social atuais são distorsivos para os adolescentes confusos. Também fico alarmada com a facilidade com que figuras de autoridade facilitam a transição. Tive de persuadir dois terapeutas, um endocrinologista e um cirurgião a me darem o que eu queria. Nenhum deles estava sob uma esmagadora pressão profissional, como agora estariam, para “afirmar” a minha escolha.

Pode ser que eu também fizesse a transição mesmo que eu esperasse alguns anos. Se eu não tivesse feito a transição, eu provavelmente teria sofrido com o mundo de outras formas. Em outras palavras, eu ainda estou a tentar perceber o quanto de arrependimento eu tenho, mas me sinto confortável com a ambiguidade.

Que conselho eu transmitiria aos jovens que procuram a transição? Aprender a enquadrar-se no seu corpo é uma luta comum. As dietas restritivas, a roupa que molda o corpo e as cirurgias estéticas são todos sinais de que milhões de pessoas, a uma certa altura, têm dificuldade em aceitar a sua própria imagem. A perspectiva do sexo pode ser intimidante. Mas o sexo é essencial em relações saudáveis. Dê a ele uma oportunidade antes de alterar permanentemente o seu corpo.

Acima de tudo, vá com calma. Pode ser que você ainda decida fazer a mudança. Mas se explorar o mundo habitando o seu corpo tal como ele é, talvez descubra que o ama mais do que pensava ser possível.

 

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Três comentários da No Corpo Certo sobre esse depoimento.

O primeiro é sobre idade mínima para a “transição”. Corinna admite que, aos 19 anos, ainda não tinha maturidade suficiente para para compreender e consentir com a “transição” médica. No Brasil, ele também poderia ter sido emasculado com essa idade: o Conselho Federal de Medicina, através da Resolução nº 2265/19, diminuiu de 21 para 18 anos a idade mínima para as cirurgias definitivas como a castração cirúrgica de testículos (testectomia ou orquiectomia), a amputação e inversão de pênis (propagandeada como uma “vaginoplastia” ainda que não seja possível construir uma vagina num homem), a mutilação de braços e pernas para simular um pênis em mulheres (“faloplastia”) e a amputação de seios saudáveis, cujo termo de marketing mais recente é “top surgery” (“cirurgia de cima”). Essa Resolução, no país de “leis que pegam e não pegam”, contraria a lei federal sobre esterilização voluntária, que exige a idade mínima de 25 anos ou pelo menos dois filhos vivos, a 9.263/96, lei essa que já havia sido desprezada pela Portaria do Ministério da Saúde nº 2803/13, que fixou como idade mínima para essas cirurgias os 21 anos. Ainda com base na Resolução do CFM, hormônios sintéticos feminilizantes ou masculinizantes são ministrados já aos 16 anos e hormônios bloqueadores de puberdade, aos primeiros sinais de puberadade – aos 9 anos, por exemplo.

Todos nós sabemos o quanto somos imaturos não só na infância e adolescência, mas também no começo da vida adulta. Muito provavelmente, você se lembra de decisões imprudentes que tomou quando tinha 19, 20 ou 21 anos, de situações complicadas nas quais se envolveu ou de pensamentos que lhe pareciam fazer todo o sentido e hoje te parecem ridículos; você se pergunta como pôde escolher um curso universitário ou um emprego que nada tinha a ver com você, se relacionar com determinada pessoa, andar com uma certa galera… A ciência explica: aos 18 anos, podem faltar cerca de 7 anos para que o cérebro termine a maturação. Matéria publicada no site G1 em 2.5.2012 já avisava que “Uma série de estudos médicos publicada pela revista especializada ´The Lancet  em abril é categórica: a adolescência dura até pelo menos os 24 anos de idade. É só nessa idade que o desenvolvimento do cérebro é completado”. E continua: “Antes dos 24 anos, o cérebro não está formado o suficiente para que a pessoa saiba avaliar as situações de uma maneira clara. Segundo os especialistas, nessa idade as reações são mais intempestivas e as vitórias e fracassos afetam a pessoa de maneira mais intensa”. Especialistas ouvidos pela Revista Veja em matéria publicada virtualmente no dia 19 de março de 2019 vão mais além: “Segundo os cientistas, as pessoas só se tornam completamente adultas aos 30 anos de idade. Os especialistas afirmam que, apesar de nos tornarmos legalmente adultos aos 18 anos, o desenvolvimento cerebral ocorre, em média, ao longo de três décadas”.

E mais: aos 18 anos, já podemos votar, dirigir, casar e assinar contratos sozinhos, mas ainda não passamos por um número considerável de experiências que nos ajudam a ver o mundo como ele realmente é, com todas as suas complexidades. Isso acontecerá ao longo do tempo, conforme começamos a trabalhar fora, ou passamos por uma graduação, ou vivenciamos relacionamentos íntimos, conforme vamos aprendendo com nossos amigos e familiares, bem como com livros, filmes e até músicas… Se Corinna tivesse chegado aos 25 anos, ainda mais com as questões de saúde mental que mencionou controladas, é possível que já tivesse compreendido, perfeitamente, a diferença entre ser um homem gay e uma mulher, bem como buscado formas saudáveis de reagir ao bullying que sofria; formas que não direcionassem sua justa revolta para seu próprio corpo. Talvez, depois de experimentar os prazeres do sexo, estivesse confortável com seu próprio corpo. E talvez não. É pouco provável que médicos, psicólogos e psicanalistas não saibam o básico do desenvolvimento infanto-juvenil. Assim, e por mais que seja desconfortável admitir, foi a sede de lucros que os motivou a advogar pela diminuição da idade mínima para início das intervenções corporais: agir antes que os pacientes mudem de ideia. Há que se observar também que, nessa idade, adolescentes podem ser tão teimosos que mesmo os pais, familiares, amigos e profissionais mais amorosos podem não conseguir fazer com que esperem um pouco!

Também fiquei pensando em como o IRC, citado por Corinna como um facilitador, foi multiplicado à infinita potência pelas redes sociais de hoje.

O segundo comentário é sobre a homofobia como fator preponderante para a “transição” de rapazes: o autor, aos 19 anos, acreditava que o fato de se interessar por homens o faria menos homem ou, de alguma forma, uma “mulher”. Da mesma forma, muitas jovens lésbicas acreditam que por se atraírem por mulheres seriam “menos mulheres” ou, de alguma forma, “homens”. Já em homens mais velhos e não-homossexuais, a exigência de ser visto como mulher está ligada a uma parafilia chamada autoginefilia, como ensina o veterano psicólogo Ray Blanchard.

Por mais que sejamos solidários a lésbicas, gays e bissexuais vítimas de homofobia e lesbofobia, sabemos que homens e mulheres são definidos por seu sexo biológico e não por sua orientação sexual e isso precisa ser dito. É compreensível a dificuldade que os “LGB”, sobretudo jovens, têm em aceitar a atração por pessoas do mesmo sexo, mas a mulheridade não é um território para homens insatisfeitos com as imposições da masculinidade e nem a classe dos homens compreende mulheres fugindo das imposições da feminilidade. Mulheres não são homens, gays ou não, e homens não são mulheres, lésbicas ou não.

É por isso que insistimos que organizações e ativistas da sigla “LGBT” e derivadas configuram um lobby prejudicial à sociedade e não um movimento social e que eles não deveriam influenciar leis, políticas públicas e diretrizes médicas e muito menos deveriam estar em escolas. O ativismo “LGBT”, ao contrário do que era apenas “LGB”, contém homens gays que não se aceitam como gays, que vêem em sua orientação sexual e ou em suas preferências de vestuário, maquiagens ou outros acessórios um “sinal” de “mulheridade”, “travestilidade”, “transexualidade”, “transgeneridade” e outros termos sem comprovação científica que fetichizam a existência de meninas e mulheres. Homens que toleram e até mesmo incentivam a “transição” de jovens que podem ser simplesmente lésbicas, gays e bissexuais (“LGBs”) como forma de se autovalidarem e fugirem do que são. Essa sigla atua contra os interesses desses jovens, praticando uma verdadeira “cura gay” com verniz de “diversidade e inclusão” e sancionada pelo Estado. E mais: muitos pais podem ver na “transição” de seus filhos uma forma de driblar sua decepção diante da orientação sexual declarada pela cria ou, no caso de crianças pequenas, diante da orientação que eles supõem que elas teriam no futuro. Recomendo, sobre isso, o texto “´Incongruência de gênero´ na infância´ ou repatologização da homossexualidade?” , que escrevi em parceria com o coletivo Gays pela Abolição de Gênero e cuja versão resumida foi publicada junto à Universidade Federal do Ceará (6).

É importante frisar também que a letra “T”, por redefinir o que são homens e mulheres, atua contra os direitos do sexo feminino – inclusive das lésbicas e bissexuais, supostamente representadas pela sigla. E que uma parte considerável do lobby “LGBT” realiza também lobby pró-prostituição, denominada de “trabalho sexual”, a qual vitimiza principalmente mulheres, crianças e rapazes gays. Há aliciadores no Brasil, que se autodeclaram “trabalhadoras do sexo”, bastante conhecidos e que atuam com a conivência de seus partidos.

Em terceiro e último lugar, faço uma pergunta a você: seria possível, realmente, a existência de uma medicina “trans” ética? O autor do texto acredita que sim; ele não condena esse nicho de mercado como um todo, sendo membro da  “Gender Care Consumer Advocacy Network” (“GCCAN”) ou “Rede de Defesa do Consumidor de Cuidados de Gênero”, cujo site promete: “Nossa missão é empoderar os receptores de cuidados relacionados à transição de gênero para se tornarem saudáveis e inteiros”.

A nossa campanha não considera ético mentir para os pacientes e seus familiares que seres humanos poderiam “transicionar” de meninos e homens para meninas e mulheres ou vice-versa (ou, ainda, para as chamadas “identidades não-binárias”). Nós percebemos a contradição entre dizer, como faz a “GCCAN”, que esse nicho visaria a tornar pacientes “saudáveis e inteiros” quando ele se baseia precisamente na prática, nada saudável, de legitimar suas delusões e, com base nessas delusões, danificar a inteireza de seus corpos.

E mais. Mesmo uma organização que se pretende ética utiliza linguagem baseada no vago termo “gênero”, o que prejudica o direito dos pacientes à plena informação. Defender de fato o direito à informação dos consumidores de qualquer produto ou serviço significa falar a verdade para eles, em termos claros e objetivos e a verdade nua e crua é que homens e mulheres continuam sendo homens e mulheres com ou sem modificações em seus corpos, documentos e pronomes; Corinna continua sendo um homem e sempre o será. O uso de linguagem fantasiosa prejudica também familiares, autoridades, acadêmicos, militantes e operadores do Direito, bem como a população em geral, dificultando que possam exprimir fatos incontroversos e também tomar decisões nas esferas privadas e públicas baseadas em evidências. O que seria, por exemplo, “mudar o gênero” de alguém?! Falar em “transição de gênero” e “mudança de gênero” é uma ótima tática para esconder o fato, óbvio, que seres humanos não mudam de sexo.

Também não adianta dispensar o termo “gênero” e utilizar outros como “transexual”, “transexualidade”, “processo transexualizador”, “transgênero”, “trans” ou, como faz o título do artigo que traduzimos, “redesignação sexual”. Sexo não é “designado” ou “assinalado” unilateralmente por obstetras, enfermeiras, parteiras ou quem quer que auxilie uma mulher a dar à luz: é uma característica que, em seres humanos, é fixa e imutável desde a concepção.

O texto tenta fazer ao final uma comparação entre a medicina “trans” e o ato de fazer determinadas dietas, usar certas roupas e ou fazer cirurgias estéticas (lembramos que, da mesma forma, todos os serviços baseados em “gênero” são tecnicamente estéticos na medida em que seres humanos não mudam de sexo e que estes corpos são, objetivamente, saudáveis). A comparação feita por Corinne deve ser vista com restrições; de fato, todas essas ações partem em algum nível da insatisfação com o corpo, mas a maior parte das dietas, uso de vestuário e serviços de modificação corporal é reversível, ao contrário da amputação de seios, genitais e úteros. Além do mais, a escolha por procedimentos de “embelezamento” impacta em pouco ou nada os direitos das outras pessoas. Exemplificando: um colega seu de trabalho que adere a uma alimentação radical ou a aplicações de botox não está retirando os seus direitos, mas se ele resolver se autodeclarar “mulher trans” (e sequer precisaria ter um diagnóstico médico para fazê-lo) muito provavelmente ele retirará o seu direito à liberdade de expressão de dizer o que são homens e mulheres, te obrigará a usar pronomes errados (que não são baseados no sexo) e também invadirá os espaços separados por sexo das funcionárias e clientes.  Seu colega também poderá rotular como  “transfobia” o seu direito à orientação sexual; Corinne se conformou com o óbvio desinteresse de homens heterossexuais por pessoas do mesmo sexo, mas você provavelmente já deparou com  cobranças de transativistas e seus aliados em sentido contrário, para que a sociedade comece a basear sua orientação sexual em “gênero” e não em sexo. Nenhum ramo da medicina deveria comercializar serviços que interferem tanto assim na esfera alheia ao paciente; isso é antiético e antissocial. 

Sempre digo que, como todas as histerias coletivas, a histeria “trans” também irá terminar um dia. E deixará como rastro toda uma geração de crianças e jovens que iniciaram a vida adulta com corpos permanentemente danificados. Ao menos, alguns de nós poderemos dizer que tentamos fazer alguma coisa.

Notas de rodapé:

 

(1) O link leva para a matéria “Here´s how sex reassignment surgery works” ou “Veja como funciona a cirurgia de redesignação sexual”, publicada no Washington Post em 9 de fevereiro de 2015.

(2) Uma espécie de aposentadoria existente nos Estados Unidos.

(3) O link leva para o artigo acadêmico “Cross-sex Hormones and Acute Cardiovascular Events in Transgender Persons: A Cohort Study” ou “Hormônios cruzados e eventos cardiovasculares agudos em pessoas transgêneros: um estudo de coorte” (“coorte” é um sinônimo de longitudinal; estudos longitudinais são comuns quando se quer saber, por exemplo, os efeitos de algum procedimento ou medicamento sobre pessoas inicialmente saudáveis). Uma das conclusões foi de que “transfeminine participants had a higher incidence of VTE” ou “participantes transfemininos tinham uma incidência maior de VTE”. “VTE” é a sigla para “venous thromboembolism” ou tromboembolismo venoso.

(4) Aqui, cita-se o artigo “Male Hypogonadism and Osteoporosis: The Effects, Clinical Consequences, and Treatment of Testosterone Deficiency in Bone Health” ou “Hipogonadismo masculino e osteoporose: os efeitos, consequências clínicas e tratamentos para a deficiência de testosterona na saúde óssea”. Um dos resultados do estudo foi que “Male hypogonadism results in declines of bone density and is correlated with increased fracture risk (…)” ou “O hipogonadismo masculino resulta no declínio da densidade óssea e está correlacionado ao aumento do risco de fraturas (…)”.

(5) O texto indica o estudo “Low Testosterone Level and Risk of Alzheimer’s Disease in the Elderly Men: a Systematic Review and Meta-Analysis” ou “Baixos níveis de testosterona e risco da Doença de Alzheimer em homens idosos: uma revisão sistemática e meta-análise”. Trecho da conclusão: “This meta-analysis supports that low plasma testosterone level is significantly associated with increased risk of Alzheimer’s disease in the elderly men. Low testosterone level is a risk factor of worse cognitive function in the elderly men” ou “Esta meta-análise sugere que baixos níveis de testosterona plasmática é significativamente associado com aumento do risco da Doença de Alzheimer em homens idosos. Baixos níveis de testosterona é um fator de risco para a piora na função cognitiva em homens idosos”.

(6) Baixe o arquivo VERSÃO UFC “Incongruência de gênero na infância e adolescência” ou repatologização da homossexualidade_ Revisão 2020_Anais_FINAL.docx .