Caras leitoras e caros leitores,
você lembra da resenha que publicamos sobre o livro “Irreversible Damage” – “Danos Irreversíveis”? A obra em que a jornalista norte-americana Abigail Shrier investiga os danos causados pela medicina “trans” em meninas e jovens mulheres? Depois dessa resenha, que foi escrita pela psicóloga Dra. Carolina Rabello Padovani, é a vez do nosso leitor Vinicius Mussato nos enviar uma contribuição. Desta vez, uma tradução de um artigo escrito pela própria Abigail sobre as tentativas de censurar seu trabalho.
O tema da liberdade de expressão é muito caro à nossa campanha. Uma das coisas que mostra que os que defendem a “transição” de crianças e adolescentes não têm argumentos reais foi o quanto tentam censurar as vozes dissonantes, o quanto trocam o diálogo civilizado por gritos, acusações vazias, chantagem emocional, ameaças, agressões e pela pressão sobre entidades para cancelarem palestras. E o texto de Abigail mostra o quanto esse lobby é bem-relacionado diante dos lucros bilionários que obtêm convencendo as pessoas de que elas precisam mudar radicalmente seus corpos para serem felizes.
Transativistas estão tentando “cancelar” o meu livro. Por que o Vale do Silício está ajudando a eles?
(Escrito por Abigail Shrier. Link para o original da revista Quillette aqui. Imagem: a autora em sua participação no podcast “The Joe Rogan Experience”, em 2020).
No dia seguinte que tuitei sobre as tentativas de impedir a venda do meu livro “Irreversible Damage: The Transgender Craze Seducing Our Daughters” (“Dano irreversível: o delírio transgênero que está seduzindo nossas filhas”, em tradução livre para o português), eu estava no telefone falando com a corretora imobiliária dos meus pais: “Como está indo o livro?” ela perguntou, “Muita polêmica?”
Eu sei que é moda hoje em dia se dizer introvertido – algo que tem a ver com uma presunção de profundidade, talvez – mas eu sou REALMENTE introvertida. Conversa fiada me deixa cansada, não porque me acho melhor do que isso, mas porque parece que me entregaram uma chave de soquete: eu não tenho a mínima ideia do que fazer com isso.
“É, você já devia saber, né?” ela incrementou casualmente. “Quando você escreve um livro igual àquele, você sabe o que está fazendo.”
Essa é, mais ou menos, a reação das pessoas ao esforços de suprimir o meu livro. Não quer dizer que eles concordam com a censura em si, é só que não dá para esperar que você saia tocando fogo em tudo sem querer que os “policiais” das grandes empresas de tecnologia tentem apagar o incêndio. “Se você vai falar sobre essa coisa de trans, o que você estava esperando?” Acho que o meu próprio agente me disse essas exatas palavras.
Exceto que eu não tinha escrito sobre “essa coisa de trans”. Eu escrevi especificamente sobre o aumento súbito de meninas adolescentes se identificando como transgênero. Eu apoio totalmente a transição médica de adultos. E não tenho nenhum intuito de provocar ninguém. (Eu não gosto de provocação gratuita, em parte porque geralmente provocadores tem um bom argumento – o qual eles são muito preguiçosos ou inaptos para expressar) . Tampouco tenho qualquer interesse lascivo na vida social dos outros.
O meu objetivo, enquanto jornalista, é de investigar um fenômeno cultural e lá estava um que valia a pena ser investigado: entre 2016 e 2017, o número de mulheres procurando cirurgia de gênero quadruplicou nos Estados Unidos. Milhares de meninas adolescentes pelo Ocidente estão não só se autodiagnosticando com uma dita disforia que elas provavelmente não têm, mas estão em muitos casos conseguindo hormônios e cirurgias seguidas de diagnósticos precipitados. Professores, terapeutas, médicos, cirurgiões e organizações médicas estão todos assinando embaixo dessas transições, muitas vezes por medo de serem denunciados por terem dado uma amostra de “transfobia” – apesar do número crescente de evidências de que a grande parte de jovens que se apresentam como trans eventualmente desistem e que essas intervenções irão causar mais sofrimento do que bem.
Não é marginal a visão de que essa onda repentina de adolescentes transicionando é um fenômeno causado por ideologia e muito preocupante. Na realidade, fora do Twitter, Reddit, Tumblr e universidades, essa é a visão predominante entre os americanos. Não há nada de malicioso em sugerir que a maioria dos adolescentes não tem bom discernimento para aprovar alterações irreversíveis em seus corpos, principalmente se eles estão sofrendo com algum trauma, TOC, depressão ou qualquer outro problema de saúde mental que andam lado a lado das expressões de disforia. E mesmo assim, cá estamos.
Os esforços para impedir minhas denúncias têm sido coletivos, a começar com ameaças à equipe da editora, que rapidamente mudou de ideia sobre a publicação do meu livro. Quando consegui uma editora grande, a Regnery, a equipe de vendas foi proibida de patrocinar anúncios pela Amazon em seu site. (A Amazon permite anúncio patrocinado de livros que, de maneira acrítica, celebram a transição médica de adolescentes).
Por se tratar de um livro abordando um fenômeno interessante, um grande número de jornalistas quiseram fazer suas resenhas sobre ele. A questão da identificação trans parece ter surgido do nada para a Geração Z, a geração que começou em 1995 cujo alto índice de questões de saúde mental já chama a nossa atenção. E a questão criou alianças inusitadas entre pessoas que compartilham visões convergentes sobre o assunto. Conservadores religiosos estão muito preocupados com a questão – assim como as lésbicas, que observam um número chocante de meninas adolescentes transicionando de maneira alarmante. Muitos suspeitam que todas essas transições estão, efetivamente, matando uma geração inteira de jovens lésbicas.
De qualquer forma, todo grande jornal e revista recusou os jornalistas interessados em resenhar o livro. Se eles falariam bem do meu livro ou não, eu não tenho ideia – e isso não importa. Kirkus, que publica 10 mil críticas/análises por ano, incluindo autores independentes e trabalhos obscuros – fingiu que meu livro não existia. Seus editores estavam ocupados demais aclamando livros como “Trans Teen Survival Guide”, “When Aiden Became a Brother, Jack (Not Jackie)”, “Rethinking Normal”, e claro, “Beyond Magenta: Transgender Teens Speak Out.”
A imprensa alternativa tomou a frente e foi onde a mídia tradicional teve medo. Joe Rogan me recebeu no podcast dele, e durante duas horas, nós exploramos os motivos pelos quais um número crescente de pesquisadores acredita que contágio social tem parte importante quando grupos de garotas decidem de repente, em uníssono, que são garotos. A disforia de gênero sempre existiu, mas até recentemente, atingia mais homens do que mulheres. Enquanto a disforia de gênero sempre foi muito escassa em mulheres, o contágio social não. Essas são as mesmas garotas ansiosas e deprimidas (majoritariamente brancas) que, em décadas anteriores, foram vítimas de anorexia, bulimia ou transtorno de personalidade múltipla. Agora é a disforia de gênero, que por vezes vem com um ou todas as condições acima. Pais e mães estão sendo introduzidos à ideia sedutora de que a transição é uma panaceia.
Depois que o podcast foi ao ar, eu fiquei impressionada com as mensagens de pais – e até mesmo adultos transgêneros – que me agradeciam pelo episódio. Mas no Spotify, onde está hospedado o podcast de Joe Rogan, os funcionários lançaram um ataque. Eles ameaçaram se demitir por conta da entrevista, dizendo que era transfóbica e pedindo que ela fosse deletada da plataforma. Tanto eu quanto Joe Rogan já fomos chamados de transfóbicos pela Men’s Health e pela Media Matters. A equipe do Spotify teve 10 reuniões individuais para tentar apaziguar seus funcionários-ativistas que pediam um veto editorial.
Justiça seja feita, o Spotify não deletou o episódio. Mas a controvérsia soou um alarme para outras empresas: a menos que você queira arranjar problemas, não desafie a narrativa inquestionável da “afirmação” para toda e qualquer criança que se diz trans – não importa a idade, contexto ou falta de orientações médica responsável recebida pela família.
Graças ao podcast do Joe Rogan, pais e mães pelo mundo ouviram falar sobre a tese do meu livro, pais e mães que teriam se calado ou que foram manipulados e chamados de transfóbicos quando expressavam suas objeções às orientações de ativistas. Muitos já tinham chegado, silenciosamente, à explicação de senso comum que ofereço – de que muitas dessas meninas jovens sequer eram trans em primeiro lugar. A dor e tristeza dos pais – um sentimento natural vindo de quem vê a própria filha acreditando não pertencer ao corpo certo, caminhando na direção da automutilação – foram agravadas pelas alegações de que a preocupação dos pais é mais uma fonte de sofrimento, podendo levar até ao suicídio.
Sean Scott, membro da National Association of Science Writers (NASW), ouviu falar sobre o meu livro no Outono e compartilhou o que conheceu com outros colegas autores científicos. Ele percebeu que a Nature Communications tinha publicado um estudo para “investigar se traços de autismo eram elevados em indivíduos transgêneros”. (Sem nenhuma surpresa, eles são: crianças autistas desenvolvem todo tipo de fixação sobre o mundo que eles experienciam). Então ele escreveu: “Isso, juntamente com o livro recente da colunista [Abigail Shrier, do Wall Street Journal] sobre a elevação de transgenerismo em meninas jovens… deveria lançar luz sobre um assunto muito sensível, de teor político e que potencialmente carrega consequências médicas para uma vida inteira.” Isso soa como discurso de ódio? Eu não acho.
Eu conversei com Scott. Ele nem tinha lido Irreversible Damage – e não tinha uma opinião sobre o mérito do livro. Ele sequer achou o assunto interessante e torceu para que o meu livro “lançasse luz sobre o assunto” – uma posição nada radical para um jornalista científico. E por esse crime de pensamento, ele foi expulso do fórum de discussões do grupo.
A NASW emitiu uma nota aos membros do grupo de discussão dizendo: “O Conselho da NASW rejeita as sugestões propostas abaixo a respeito da pesquisa sobre saúde e bem-estar de crianças trans e em não-conformidade com seu gênero. Nós enxergamos as declarações que esse indivíduo fez como danosas, tendo sido esse ou não o seu intuito. Disfarçar discursos anti-trans como suposta preocupação com crianças ao sugerir que jovens transicionados social e medicamente têm chances de se arrepender dessa decisão é uma velha tática conhecida como ‘preocupação passivo-agressiva’ (‘Concern Trolling’). De acordo com as regra do Grupo de Discussão, nós removemos essa pessoa desse grupo”.
Tenha em mente que a NASW não é o jardim de infância. Esse é um grupo de jornalistas adultos ostensivamente comprometidos em comunicar ideias científicas ao público. Mas pelo menos isso explicou o mistério do porquê ninguém na mídia tradicional estava escrevendo sobre o meu livro ou o estudo científico no qual ele foi embasado – no caso, um artigo de 2018 escrito pela pesquisadora Lisa Littman para a faculdade de saúde pública da Brown University, no qual levantava a hipótese de que o aumento de identificação transgênera entre meninas jovens deveria ser um mau mecanismo de enfrentamento similar a um transtorno alimentar.
[ “Puberdade não é um problema de saúde” diz o outdoor promovendo o livro de Shrier ]
Pais que viveram na pele esse contágio social – que têm visto suas filhas, que jamais tinham mostrado sinais de disforia de gênero na infância, serem atingidas por esse contágio – ficaram tão chocados com a tentativa de supressão que eles tiraram do próprio bolso para promover o meu trabalho. Foi assim que eu me tornei uma das únicas autoras do mundo a ter o próprio outdoor erguido em West Hollywood. Outros pais abriram uma conta no GoFundMe, uma plataforma que facilita vaquinhas online para todo tipo de causa. O GoFundMe fechou a conta. Os pais iniciaram uma nova campanha para arrecadar fundos. O GoFundMe fechou a conta outra vez. Se uma jovem mentamente frágil quiser ajuda para remover os próprios seios, o GoFundMe irá ajudá-la sem problemas. (Atualmente o site abriga mais de 35 mil campanhas apenas para ajudar a pagar remoções de seios.) Mas se você acredita que a sua filha está cooptada por um movimento que irá deixá-la arrependida, mutilada e estéril, então infelizmente não é seu dia de sorte.
Eu quero esclarecer algo. Eu não acredito que fui prejudicada por essas tentativas de supressão. Eu não tenho o direito de ter meu livro resenhado por qualquer veículo de imprensa. Eu já vendi muitos livros sem pagar pelos anúncios da Amazon. Joe Rogan (e também a Megyn Kelly, que me recebeu no programa dela) têm plataformas bem maiores do que esses que fingiram que o meu livro não existe. E, por mais que esse tópico seja fascinante para mim, eu não sou uma ativista. Eu irei atrás de outras histórias e escrever outros livros.
Mas existe uma vítima aqui – o público. Uma rede de ativistas e seus jornalistas têm obtido amplo sucesso em suprimir a discussão real a respeito do excesso de diagnósticos de disforia de gênero entre meninas vulneráveis. Enquanto você lê isso, tem pais por aí sendo coagidos por autoridades no assunto de que eles devem afirmar o súbito interesse de suas filhas em se tornarem meninos – sem questionar. Da Amazon até I Am Jazz, todo mundo está dizendo aos pais que a transição é o caminho para a felicidade, e que aquelas que questionam essa narrativa são intolerantes. Então eles abaixam a cabeça e deixam a terapia de conversão cobrar seu preço.
É assim a censura na América do século XXI. Não é o governo enviando a polícia à sua casa. São os oligarcas do Vale do Silício encobrindo os fatos e agradando aos militantes enquanto enterram ideias desfavorecidas em um buraco. E as forças da censura estão vencendo. Não só porque suas estratégias de supressão não deixam provas. Eles estão vencendo porque, até agora, a maioria dos americanos preferiu se render em troca do conforto de ter suas mercadorias entregues na porta de casa. A maioria se curvaria com alegria ao Big Tech, contanto que o Netflix dele não seja cancelado.
Em algum momento, passará por nossas mentes uma lista interminável de coisas que não podem ser ditas. Nos encontraremos difamados, ou impedidos, ou como alvos da campanha de “lacradores”. E nós buscaremos apoio de alguns, com uma vaga lembrança do por que eles se importavam com a liberdade de expressão. Os que notaram os avanços da tirania com um sorriso cruel como o de um burocrata de baixo escalão à espera da entrega de um sorvete Cherry Garcia e horas ininterruptas de streaming, dirão: “Você está colhendo o que plantou, não está?”.
Abigail Shrier é uma escritora de Los Angeles e colunista no Wall Street Journal. Siga Abigail no Twitter: @AbigailShrier.