Caros e caras,

conforme já dissemos diversas vezes, lésbicas, gays e bissexuais, sobretudo jovens, são particularmente vulneráveis ao discurso “trans”. Por isso, o último lugar em que eles e seus pais deveriam buscar informação são entidades, ativistas e profissionais afiliados à sigla corporativa “LGBT” e suas derivações (“LGBTQ”, “LGBTQIAP” etc.): elas funcionam, ainda que involuntariamente, como aliciadoras para uma lucrativa “transição”. Cientes desse conflito de interesses, os LGBs éticos estão se posicionando de maneira crítica a essa apropriação, seja em em suas redes sociais (como o youtuber brasileiro Julio Marinho,) seja fundando ONGs (como a LGB Alliance, presidida pela britânica Allison Bailey), seja através de coletivos, como o “Gays pela Abolição de Gênero”. Recomendamos a leitura do artigo “´Incongruência de gênero na infância´ ou repatologização da homossexualidade?”, escrito por mim em conjunto com o Coletivo e cuja versão resumida foi selecionada e publicada junto à Universidade Federal do Ceará. Esse aliciamento é ainda mais flagrande no Estado de São Paulo, o mais rico do país e que inaugura ambulatórios de “identidade de gênero” sem o menor diálogo junto à sociedade e com os LGBs adultos, os quais reconhecem nesse suposto “tratamento” uma forma “progressista” de “cura gay”.

Feita esta introdução, submeto a vocês mais um texto enviado por uma leitora sobre como lésbicas são empurradas para a “transição”. Repare como ele, involuntariamente, dialoga com a denúncia anterior da paciente de Niterói cujo possível abuso na infância foi relativizado por sua psicóloga. Pense: quantas meninas e meninos, sobretudo num país com dados alarmantaes de estupro como o Brasil, não estão direcionando para seus próprios corpos a punição que deveria ser a de seus algozes?

Abraços e até a próxima.

Eugênia Rodrigues

Jornalista

Porta-voz da campanha No Corpo Certo

Como meninas acabam se escondendo dos abusos em uma identidade trans. Contém alguns gatilhos.

 

Desde quando surgiram os movimentos trans ativistas na minha cidade, muitas lésbicas masculinas acabaram se identificando com a questão da identidade de gênero. Acredito eu que boa parte sempre quis encontrar seu lugar no mundo. Aliás, acho que boa parte dessas pessoas vivem à mercê disso. Todos atualmente parecem se sentirem pressionados a fazerem parte de algum grupo. Precisam ser notados, vistos, elogiados e aceitos. Até aí, tudo bem, porque não vejo problema nenhum nisso. O problema é quando a pessoa acaba de sair de traumas pesados como estupro e acaba encontrando nessa “identidade” um mecanismo de fuga.

Durante algum tempo, eu também fui ativista dessa causa. E conheci muitas meninas que transicionavam. Muitas delas eram abusados pelo padrasto, tio, primo, amigo próximo da família e até mesmo o pai. Poucas eram as que realmente se identificavam como homem por não se encaixar no estereótipo de mulher que a sociedade impõe. Outras realmente tinham pavor da menstruação, seios, e etc. A primeira vez que eu tive contato com uma mulher vítima de abuso sexual que se assumiu lésbica e depois homem trans eu tinha uns 22 anos. Vou chama lá de Ana. Ana era uma menina comum como todas as outras. Lésbica assumida, não feminina, gente muito boa. Fazíamos parte do mesmo círculo de amizades e na época eu namorava uma amiga de Ana.
Ana sempre mencionava que havia sido molestada pelo padrasto durante a infância. E trocamos muitas idéias sobre isso porque eu também sofri abuso sexual dos 7 aos 12 anos por um vizinho. Ana sempre contava como ela parou de usar vestidos porque isso “excitava” o abusador. Que ela parou de usar lacinhos e tudo que dava gatilho e a fazia lembrar do ocorrido. Uns dois anos depois, os movimentos trans ativistas começaram a ganhar força na minha cidade e, do nada, Ana apareceu se declarando homem trans e se chamando João. Foi um susto pra todo mundo. Porque ela deu uma sumida e de repente apareceu com essa nova identidade.
Respeitamos, claro!! Quem somos nós pra questionar o que a pessoa sente. Com o passar dos anos, Ana – que agora era João – se tornou militante da causa trans. Acabou perdendo a identidade lésbica e até esquecendo que um dia foi uma lésbica não feminina. Passou a namorar homens “cis” e se declarar homem trans gay. Depois passou a namorar mulheres trans e se declarar hétero. Até que um dia engravidou. E foi nessa gravidez que todo abuso sexual que Ana com tanto esforço quis esquecer veio à tona.
Ana teve um princípio de depressão na gravidez. Pois lembrava que seu abusador dizia que ainda faria um filho nela. De início, ela rejeitou a idéia de ter um filho. Se ela não era mulher, como poderia gestar? Entrou em uma crise existencial e foi aí que ela buscou ajuda psicológica pra se entender. Detalhe, a mesma nunca havia pisado em uma sessão de terapia. Era mais o que os outros diziam que ela era do que sua real identidade.
Decidiu destransicionar, assumiu sua identidade feminina e lésbica. Faz acompanhamento psicólogico e acabou aceitando sua filha, que foi de uma relação consensual. Superou o trauma. E, no nosso último encontro, a mesma mencionou que mesmo se declarando homem continuou sofrendo violência por ter nascido mulher.
A segunda vez que eu conheci alguém que passou pela mesma situação foi alguém que já era minha amiga de muitos e muitos anos. Vou chamá-la de Alice. Alice era uma menina tímida, sempre foi. Nos conhecemos ainda crianças. Alice também sofreu abuso sexual. E nós éramos amigas de bairro. Alice se assumiu lésbica aos 13 anos. Nunca foi feminina. E ela sempre dizia que tinha medo de usar saias porque o abusador dela “adorava” quando ela vestia saia por que era mais “fácil” tocá-la. Durante anos, mesmo Alice não sendo feminina, isso nunca impediu a mesma de sofrer um estupro aos 16 anos. Lembro que ela chegou na minha casa ensanguentada chorando. Alguns anos se passaram e Alice parecia uma mulher lésbica assumida que não se importava com rótulos.
Até ela conhecer uma suposta menina que se dizia hétero. Ambas namoraram por um tempo e quando a menina terminou com ela Alice se viu perdida. E foi aí que conheceu um homem trans ativista da nossa cidade que dizia que ela não era mulher, mas um homem em um corpo feminino. A minha amiga que dizia que não era homem trans, um dia acordou se declarando trans, o que levou ela a passar por diversas situações de violência. Primeiro, a família não aceitou e a rejeitou. Segundo, ela perdeu diversos patrocínios porque era atleta e não tinha mais como ela competir na categoria feminina e se fosse competir na categoria masculina ela ficaria em desvantagem.
Alice seguiu firme com sua identidade trans e hoje se declara como Mario. Mario é um homem trans que já sofreu estupro corretivo quando entrou em um banheiro masculino em uma viagem que fez. Que tem relacionamentos extremamente abusivos. Que acabou se tornando mitomaníaco e o pior, que tem sérios problemas psicólogicos mas que não faz nenhum acompanhamento. Eu como amiga sempre orientei pra que ele buscasse ajuda. Mas é em vão!!
Eu aprendi que respeitar também é aceitar que o outro faça suas escolhas e arque com as consequências dela. Mario se sente muito frustado quando mulheres heterossexuais não querem se relacionar com ele. Mas criou uma persona na qual ele só se relaciona com mulheres héteros. Que na verdade são bissexuais ou lésbicas. Nunca o vi de fato com uma mulher hétero. Mas cada um acredita no que quiser.
A última menina que eu conheci tem 13 anos. Conheci ela na festinha de aniversário da filha da minha amiga. Uma menina fofa, simpática e meiga. A minha amiga contou que ela se chamava Ryan, e que o padrinho dela sempre dizia que ela era uma menina e não um menino. Até eu conversar com a menina.
A menina vive abaixo da linha da pobreza. O padrinho é usuário de drogas, e os amigos da menina também. Eles moram em uma comunidade e os pais são bem pobres. Segundo o padrinho dela, ela foi abusada por um vizinho há uns dois anos atrás. Desde então Ryan passou a usar roupas mais largas que não marquem tanto o corpo. Porque, apesar da pouca idade, Ryan tem corpo de uma mulher de 18 anos já. Usando bastante a internet Ryan acabou chegando em grupos trans e se identificando com a causa. Trocamos telefones e Ryan sempre conversava comigo. Até que um dia Ryan disse do abuso sofrido, que tinha medo de sofrer novamente. Por isso que ela era homem, homens não sofrem abuso.
Foi quando eu disse a Ryan: ser homem não te impede de sofrer abusos. Afinal, muitos meninos são violentados. O número não é tão grande quanto as meninas. Mas há bastante casos. Estupro é sobre poder! E existe uma falocentria em relação ao pênis. Homens sempre se acharam poderosos porque têm um pênis. Na minha infância, eu também fui abusada, me escondia em roupas largas, mas nem por isso deixei de ser estuprada aos 16 anos. Independente de como Ryan se veja, homens não o enxergam da mesma forma. É por isso que existe “estupro corretivo’, que foi o que aconteceu com a Alice. Os caras chegaram pra ela e disseram: “agora você vai aprender a ser mulher”. Por que, socialmente falando, homens sempre enxergaram mulheres como objetos, portadoras de um buraco pra “meter”. Homens não vão se sentirem acuados por ver a imagem masculina de Ryan. Pelo contrário, vão se sentir desafiados por ela e possivelmente vão querer mostrar quem manda.
Eu acho que a causa trans é válida sim. Existem pessoas realmente trans que devem serem representadas socialmente. Que merecem direitos como qualquer outro cidadão, pois pagam impostos. A questão é que o lobby trans não se certifica se aquela pessoa realmente é trans ou acabou de sair de algo traumático. Se aquela pessoa está usando essa identidade como um mecanismo de fuga. Quantas meninas são abusadas e acabam encontrando na identidade trans uma forma de se livrar dos abusos? Acontece que é só ilusão. Estupro corretivo de homens trans acontece diariamente e não é mencionado em lugar nenhum. Porque não é lucrativo falar disso!! E nem exigir que a sociedade respeite homens trans. Mas, sabe porquê? Porque homens trans biologicamente são mulheres. E ninguém está disposto a ouvir e muito menos falar sobre.
Não é sobre se sentir. Às vezes é sobre quem você era antes de sentir se “homem” ou “mulher”. Quem você foi antes de chegar à conclusão de que você era trans? Quantas meninas lindas e saudáveis eu conheci no decorrer da vida que se declararam homens trans e ficaram deprimidas por continuarem passando por toda violência que passaram quando se declaravam mulheres. Falta responsabilidade com essa causa. Não é só aceitar pessoas trans. É da acompanhamento psicólogico a essas pessoas. Para que as mesmas possam ter uma consciência do que de fato são.
Se isso fosse na minha adolescência com certeza teria me declarado trans também. Devido aos abusos, eu também me reprimi por anos. E só depois dos 30 que passei a usar vestidos, maquiagem, saltos. Nem sempre uma menina não feminina é trans. As vezes pode ser uma garota vítima de abuso sexual que não quer usar roupas femininas porque tem medo de sofrer abuso novamente!