Relato para a campanha No Corpo Certo
Recentemente, fui conhecer uma festinha queer que é sucesso na esquerda carioca. Incauta, achei que iria curtir uma música maneira em um espaço de segurança acima da média para mulheres. Por mais que eu saiba o quanto o campo progressista tem atacado os direitos de mulheres e crianças, ainda nutria a inocência de achar que espaços ditos libertários ofereceriam menos riscos para mim e minhas amigas.
Logo no início, uma cortina imensa representando uma buceta, com pessoas entrando e saindo para tirar fotos e fazer vídeos pras redes sociais, um tipo de simulação da penetração. Do outro lado, no palco, uma mulher seminua fazia danças sensuais enquanto no telão atrás dela apareciam palavras de ordem feministas e queer que se intercalavam com imagens do Presidente da República e sua cerimônia de posse. Foi assustador perceber que as pessoas interagiam com aquela performance como se assistissem algo revolucionário: corpos femininos servindo de entretenimento público. Como diria minha avó: “mais velho do que andar pra frente”.
O pior para mim foi precisar utilizar o banheiro que era misto, para homens e mulheres. Enquanto isso, Lula aparecia no telão e me lembrava que durante a campanha eleitoral ele e seus apoiadores afirmavam que banheiro unissex era uma fake news para inviabilizar sua candidatura. Primeiro, fiquei aflita por já ter bebido um pouco e precisar dividir esse espaço com homens que talvez também já tivessem bebido… Depois, fiquei revoltada com a falta de responsabilidade dos organizadores por obrigarem as mulheres a passarem por essa situação em um contexto de festa, onde as pessoas estão alteradas e, para nós mulheres, é sempre um espaço propício a violência.
Vai precisar uma mulher ser violentada durante alguma madrugada para que todos percebam esse absurdo? Talvez nem assim, pois todas nós conhecemos ou vivemos alguma situação de assédio envolvendo festas e homens “desconstruídos” que rapidamente são perdoados pelos seus “deslizes” por suas organizações e círculos sociais. O mundo não é para nós, as festas não são para nós. Nem o banheiro.