Mensagem da equipe

 

Caro leitor ou cara leitora,

esperamos te encontrar bem, dentro do possível, nesse momento de tantas incertezas. 2020 foi um ano de perdas, apreensão e desafios. 

Para nós, que questionamos o discurso transgenerista, foi de altos e baixos. Pelo menos mais duas crianças brasileiras foram publicamente declaradas “trans”; uma no Paraná, outra no Ceará. Ambas têm menos de 10 anos de idade, ainda estão na época em que acreditamos em Papai Noel… mas já passaram pela chamada “transição social”; seus nomes já foram mudados. Preferimos não mostrá-las aqui, mas perguntamos a você: quando a puberdade chegar, você apostaria que elas vão aceitar ou rejeitar as mudanças naturais dos seus corpos? Vão dispensar ou desejar os bloqueadores de puberdade? Você acredita que essa abordagem atendeu aos interesses delas, a longo prazo? Ao completar 18 anos, você acredita que a menina terá mais ou menos chances de querer retirar os seios?

Foi também um ano em que a censura aos que reafirmam a realidade material aumentou. Transativistas e seus apoiadores conseguiram retirar da revista Psychology Today (Psicologia Hoje) um artigo que desmentia o clichê de que “pais expulsam os filhos trans de casa” (o texto ainda pode ser lido aqui) e também decretaram que o livro “Irreversible Damage”, da jornalista Abigail Shriver, deveria ser queimado (a obra denuncia o impacto da medicina trans em meninas). O Twitter baniu permanentemente inúmeros perfis críticos de gênero, inclusive o do comediante britânico Graham Lineham, e o Medium fez a mesma coisa depois que ele escreveu este texto, mas você pode acompanhá-lo neste site e neste. No Brasil, acusaram famosos como Marília Mendonça e Tatá Werneck de “transfobia” e forçaram a dupla sertaneja Pedro Motta e Henrique a mudar a letra da música “Lili” (que ousava mencionar as diferenças entre mulheres e travestis). Partidos políticos não ficaram atrás: em nome da “inclusão trans”, o PT do Rio de Janeiro lançou uma candidatura condenada por proxenetismo e que havia sido expulsa do PSOL, o PSOL do Rio Grande do Sul tentou censurar a palestra de uma psiquiatra, a dra. Akemi Shiba, sobre o aumento no número de menores ditos “transgênero” e no PSOL do Rio de Janeiro falou-se até no esquartejamento da escritora J.K. Rowling. Os mesmos que exigem “respeito à diversidade” e se dizem “contra o discurso de ódio” derrubaram a nossa página no Facebook e enviavam tantas ameaças e xingamentos para o nosso perfil no Instagram que, por ora, reativá-lo está inviável; seguimos no Telegram e no Youtube enquanto for possível. “Quanto mais uma sociedade se afasta da verdade, mais odiará aqueles que a falam”, já dizia George Orwell, autor do visionário “1984”. 

Por outro lado, houve avanços. Conforme informamos no nosso texto de dezembro, o final de 2020 trouxe tanto a vitória de Keira Bell contra o ambulatório de “identidade de gênero” que a hormonizou quanto a nota do Ministério das Mulheres e Direitos Humanos, no Brasil contra a Resolução nº 2265/19, do Conselho Federal de Medicina. Tivemos o ator britânico John Cleese pontuando a óbvia impossibilidade de homens se tornarem mulheres e resistindo bravamente aos ataques virtuais, a loja de departamentos Target voltou atrás na decisão de banir o citado livro de Abigail Shrier de suas prateleiras por “transfobia” e o Spotify disse não aos funcionários que exigiram a retirada do canal de Joe Rogan da plataforma (Rogan é acusado de “transfobia” por pontuar as vantagens de homens nos esportes e por ter entrevistado Abigail). O documentário Gender Ideology (Ideologia de Gênero), que retrata as táticas abusivas do ativismo trans, já alcançou quase dez mil visualizações no Youtube. Em 2020, nasceram plataformas importantes como o podcast “Gender – a Wider Lens” (algo como “Gênero – um olhar mais amplo”), o site Partners for Ethical Care (Parceiros pelo Cuidado Ético) e o Transgender Abuse, no qual pais denunciam os danos causados pelos profissionais que atenderam seus filhos; o ano viu florescer também organizações destinadas a proteger os direitos de meninas e mulheres como a Women Human Rights Campaign, que ganhou uma afiliada no Brasil. Finalmente, perto do Natal, mais um presente inesperado: a BBC de Londres premiou a escritora JK Rowling pelo seu ensaio sobre a “questão trans”, que explica por que precisamos nos preocupar com a crescente medicalização de crianças e jovens e o impacto das políticas de “identidade de gênero” sobre o sexo feminino.

O início do ano também marca o momento em que professoras (es) e coordenadoras (es) costumam fazer seu planejamento pedagógico anual e muitos pais têm a possibilidade de participar desse processo. Queridos, evitem materiais que estimulam a dissociação corporal como é o caso dos que ensinam a ideologia da “identidade de gênero”. Qualquer obra que sugira que homens e mulheres seriam “identidades”, “gêneros” ou qualquer coisa diferente de seres humanos, respectivamente do sexo masculino e feminino, está factualmente errada e portanto não deveria ser trabalhada em sala de aula – mais constrangedor ainda é sugerir que existiria um terceiro ser humano que não é homem nem mulher, mas sim um “não-binário”! Da mesma forma, evitem ideias e práticas incompatíveis com essa faixa etária. Pais e escola, quando unidos, são invencíveis; na Austrália, uma mãe conseguiu, depois de uma conversa com o diretor (os parlamentares a haviam ignorado) a retirada do famoso “boneco do gênero” (usado por muita gente no Brasil) dos materiais trabalhados em sala de aula. Ligue os pontos: você se recorda de acadêmicos queer e organizações “LGBTQIA+” ditando políticas para a infância e adolescência no Brasil e no mundo antes da introdução do uso de hormônios em menores de idade? Você se lembra de psiquiatras sugerindo “nome social” para crianças  antes desse uso ser liberado? Por favor, leia este texto sobre “gênero nas escolas” e se pergunte: a quem interessa que o negacionismo do sexo seja ensinado em escolas, nas quais alunos e alunas estão longe da supervisão dos pais? A quem interessa que as referências na educação estejam alinhadas à Teoria Queer e sejam defensoras do dito “trabalho sexual”? A quem interessa a queerização da infância?

Inauguramos 2021 com esperança renovada e com o texto traduzido e enviado pelo leitor Vinicius Mussato (aliás, adoraríamos receber mais traduções de vocês! Obrigada, Vinicius!). Trata-se de um artigo de autoria da  jornalista Julia Diana Robertson, sobre Penny Cunningham, adolescente norte-americana que começou a se declarar “trans” aos 11 anos e agora, aos 16, lança uma “vaquinha” on-line para reconstruir seus seios. A tocante imagem que acompanha o texto, reproduzida mediante autorização, foi idealizada pela ativista e youtuber Erin Brewer (que você talvez conheça de um vídeo dela que legendamos para o nosso canal) em conjunto com a artista Bartleby; a Erin está enviando cartões com essa ilustração para conscientizar os políticos norte-americanos. A ilustração mostra a diferença de resultados entre a terapia tradicional e o modelo medicalizador e ideológico chamado eufemisticamente de “afirmativo de gênero” ou “cuidados afirmativos de gênero” e que consta expressamente na Resolução nº 2265/19 do CFM: o artigo 1º, § 5º, lê-se “Considera-se afirmação de gênero o procedimento terapêutico multidisciplinar para a pessoa que necessita adequar seu corpo à sua identidade de gênero por meio de hormonioterapia e/ou cirurgias”. Se você se opõe à “transição” precoce, como nós nos opomos, então nenhum especialista ou instituição que se alinhe a essa Resolução merece a sua visita (lembrando que ela não obriga médicos a prescrever hormônios e cirurgias; apenas os autoriza a fazê-lo. Recebemos várias mensagens de médicos informando que não a seguiriam). Tenha em mente também que, além de médicos, há psicólogos e psicanalistas que seguem o “modelo afirmativo de gênero” e apoiaram a Resolução nº 1/2018 do Conselho Federal de Psicologia. Essa Resolução, criticada por psicólogos, fere o livre exercício da profissão do terapeuta, o pleno direito à saúde dos pacientes e reafirma a posição subserviente da psicologia diante da medicina.  

Quando estávamos prestes a publicar este texto, recebemos duas notícias que nos deixaram profundamente tristes.

A primeira delas foi o assassinato bárbaro, no dia 4 de janeiro, de uma criança de apenas 13 anos no Ceará. A escola a chamou pelo nome de nascimento, Cosme de Carvalho, e tudo aponta para um homicídio ligado à prostituição (que em caso de menores de idade configura o crime de exploração sexual). Ativistas “trans” e “LGBTQIA+” decretaram que se tratava de “uma menina trans” que usava o nome de “Keron Ravach” e foi morta por “transfobia” e essa narrativa, como sempre, prevaleceu. Lamentamos profundamente o crime, prestamos nossas condolências à família e esperamos que o raso jornalismo brasileiro não se contente com a prisão do suspeito e investigue também o eventual envolvimento de quadrilhas que aliciam crianças e adolescentes. É por esse e outros motivos que nos posicionamos tão veementemente contra a “transição” de menores de idade: rótulos como “menina trans”, “adolescente travesti” e “criança LGBT” (como quer a campanha “a criança LGBT existe”) podem esconder a situação criminosa de um menino prostituído:

A segunda notícia, menos trágica mas também dolorosa, vem do Rio de Janeiro. Recebemos prints nos quais uma estudante de universidade pública arrecada fundos para uma mastectomia no valor de dez mil reais (no Brasil, cirurgiões podem extirpar os seios de adolescentes de 18 anos – apenas três anos mais velhas que Penny, cuja história você conhecerá hoje). Esperamos que esta mensagem chegue a essa jovem, à sua família, profissionais que a tratam, amigos, professores e todos os que cogitam doar para essa cirurgia irreversível. Se ela, e apenas ela, mudar de ideia, este texto já terá cumprido sua missão.

Obrigada por continuar conosco por mais um ano. Um grande abraço e um ótimo 2021.

Equipe No Corpo Certo

Depois da mastectomia dupla aos 15 anos, adolescente de 16 busca reconstrução

Detrans youth, Penny Cunningham

Imagem colocada no GoFund Me

Penny tinha apenas 11 anos de idade quando decidiu que as pessosa na internet estavam certas – que ela era “transgênero”. Aos 13, prescreveram a ela bloqueadores hormonais e aos 15 passou por uma mastectomia dupla. Agora, com 16 anos, Penny está levantando fundos numa vaquinha online para pagar pela reconstrução de seus seios.

“Logo após a cirurgia, minha depressão piorou. Eu me odiava mais do que nunca, o que me levou para uma internação psiquiátrica em Outubro de 2019” (Penny)

A ideologia de gênero – um sistema de crenças contraditório e relativamente novo – está se inflitrando nos currículos escolares, empurrando crianças para os subterrâneos da internet e encorajando jovens a questionar e analisar as suas “identidade de gênero”.

Enquanto um número alarmante de jovens que desistentes e destransicionados vêm à público, cada vez mais eles trazem visibilidade e chamam atenção para esse erro médico que vem sendo praticado há anos.

O aumento do número de crianças e adolescentes que se identificam como “trans” recentemente não fez com que a classe médica desacelerasse. Pelo contrário, eles estão deliberadamente ignorando tudo o que sabemos sobre o desenvolvimento do cérebro humano e normalizando a “transição” juvenil.

“Ao longo da minha internação hospitalar, percebi meu erro. A transição não era a solução que eu precisava e não sanaria minhas questões de saúde mental. Eu nunca fiz testes para avaliar questões corporais, então assumimos que era disforia de gênero. Eu fiquei completamente perturbada com minha cirurgia. (Penny)

Atualmente é considerado “intolerância” discordar e “progressista” entrar nessa. Rotular bebês no primeiro ano de vida, medicalizar crianças aos oito anos e realizar mastectomia dupla em meninas de doze anos, muito antes sequer de terem a oportunidade de completar seu desenvolvimento cognitivo cerebral, não é nem um pouco progressista. É abuso. Falar isso publicamente, contrariando o discurso dominante e há muitos anos, não deixou de ter suas consequências, até mesmo ameaças. Mas ler sobre adolescentes como Penny me motivam a falar ainda mais alto que antes.

JAMA pediatrics 2018 13 yr old double mastectomy

Estudo da JAMA Pediatrics sobre as mastectomias duplas em garotas de 13 anos que se identificam como “transgênero” (as mastectomias duplas já são realizadas em crianças a partir dos 12 anos de idade)

“Desde o primeiro momento, as pessoas na internet me diziam que se eu estava desconfortável com meu corpo, significava que eu provavelmente era trans.” (Penny)

Depois que Penny decidiu que ela era “trans”, aos 11 anos de idade, ela “foi atendida por uma clínica de gênero para expressar [suas] questões de disforia”. Aos 13, foi colocada nos hormônios bloqueadores de puberdade. Aos 14, lhe prescreveram testosterona. Ela tinha 15 anos quando os médicos realizaram uma mastectomia dupla nela.

Nós não alcançamos o desenvolvimento cognitivo cerebral completo até os 25 anos, aproximadamente – e isso não é algo que acabou de ser descoberto. Sabíamos esse tempo todo. Os médicos da Penny sabiam. Toda a classe médica sabe. Na verdade, é algo tão básico que aprendi no primeiro ano da faculdade de psicologia.

Detrans 16-year-old, Penny Cunningham, detransitioner, seeks reversal of double mastectomy done on her as a 15-year-old transgender-identified child

(Frase da imagem: “Penny Cunningham está organizando esta vaquinha sob os cuidados de Tina Cunningham”). Imagem do GoFundMe: Penny, de 16 anos, arrecada dinheiro para reverter uma mastectomia dupla 

Em uma vaquinha online, postada em junho de 2020, na plataforma GoFundMe, Penny escreve: “Oi, meu nome é Penny e sou uma destransicionada de 16 anos. Quando eu tinha 11 anos de idade me assumi como transgênero. Meu pais no início estavam hesitantes e obviamente temiam pela minha segurança, mas de maneira geral  apoiaram. Fui atendida numa clinica de identidade de gênero para falar das minhas questões de disforia de gênero. Eles fizeram as perguntas de praxe sobre eu me sentir desconectada do meu corpo, meu desejo de ser do sexo oposto e minhas questões com a minha menstruação. Desde o primeiro momento, as pessoas na internet me diziam que se eu estava desconfortável com meu corpo, eu provavelmente era trans.”

Alguns pais bem-intencionados não estavam preparados para os tempos insanos que vivemos – um momento em que a classe médica mente, que o dito movimento “LGBTQ” faz gaslighting e que crianças estão crescendo envolvidas por um turbilhão de informações, com o pior do mundo na ponta de seus dedos.

Muitos pais têm usado isso como uma forma universalmente aceita de terapia de conversão, rotulando  até mesmo bebês como “trans”.

O tal movimento “LGBTQ” promoveu a ideia de “crianças trans”. Inúmeras pessoas decidiram que isso era algo progressista, compactuaram com isso ou se mantiveram em silêncio.

A luta para reforçar a ideologia de gênero, que vem com uma lista extremamente longa de demandas muitas vezes irracionais, tem sido comparada com a luta de gays e lésbicas por direitos, que consistia basicamente em duas pautas: “Não nos agrida e deixem a gente se casar”. Os dois movimentos não se parecem nem um pouco. Ora, afinal, que tipo de pai algum dia entraria numa sala e apresentaria sua filha bebê como lésbica sem parecer completamente maluco?

Estatísticas apontam que, em 85% das vezes, jovens diagnosticados com disforia de gênero crescem e desistem da ideia ao passarem por suas puberdades de maneira initerrupta e em mais de 75% dos casos os jovens que tiveram “disforia de gênero” crescem e se descobrem LGB´s, quando lhes é dada a chance de amadurecer. Essa mesma taxa cai para 0% a 10% com a “transição precoce”.

O que presenciamos diante de nossos olhos é uma violação em larga escala de direitos humanos, que tem como alvo a juventude LGB e que está sendo encabeçada pelas mesmas organizações construídas para nos proteger. E está ferindo jovens heterossexuais também.

“Eu tenho duas cicatrizes enormes no meu tórax e uma parte do meu corpo se foi”. (Penny)

Penny escreve:Eu gostei de ter tido o suporte de meus médicos naquela época porque eu me encontrava em um estado de constante depressão e ideação suicida. Entretanto, eu não gostei de eles não terem realizado uma avaliação psicológica em mim para investigar comorbidades como dismorfia corporal ou transtornos alimentares. Quando eu tinha 13 anos me deram bloqueadores de puberdade, o que impediu a produção de estrogênio. Essa foi a recomendação deles e fiquei feliz, pois pensei que estava segura da minha decisão. Depois disso, ganhei cerca de 10 quilos devido aos desequilíbrios hormonais, tornando a relação com meu corpo ainda pior. Eu fiquei ainda mais deprimida e desconfortável comigo mesmo, mas gostei de parar de menstruar. No ano seguinte, com 14 anos, um terapeuta deu uma carta de aprovação para começar o uso de testosterona, como uma terapia de reposição hormonal.”

Toda a comunidade médica decidiu, em conjunto, ignorar o fato de que Penny não teria como dar “consentimento informado” para nenhum desses tratamentos, porque ela não tinha chegado nem perto do desenvolvimento cognitivo cerebral ccompleto. Como muitos adolescentes, ela não foi questionada sobre outras coisas que poderiam estar acontecendo.

Penny vive na Pennsylvania. Mas em muitos lugares, como Nova Iorque, você não pode mais fazer nada além de “afirmar” a “identidade de gênero” de uma criança – ela não pode ser questionada.

Penny segue em seu relato: “Apesar de estar satisfeita na época com as mudanças que vi, minha saúde mental não melhorava e a transição não foi o a cura fácil que eu esperava que fosse. Eu insisti em fazer a cirurgia, uma mastectomia dupla. A essa altura, eu comecei a ter minhas dúvidas mas me convenci de que isso era normal. No dia 16 de agosto de 2019 realizei minha cirurgia de remoção das mamas com 15 anos de idade, uma das pessoas mais jovens que aquela clínica já tinha operado. Logo após a minha cirurgia a minha depressão piorou. Eu me odiei mais do que nunca, o que me levou a uma internação psiquiátrica em outubro de 2019.”

Raramente ouvimos organizações grandes e personalidades midiáticas, que promovem a medicalização de jovens, mencionando o número assustador de jovens desistentes ou destransicionados, a não ser que seja para dizer que eles não existem – o ativismo “LGBTQ” silencia jovens destransicionados e os descarta como dano colateral. Entretanto, é com frequência que ouvimos eles ameaçam pais com estatísticas falsas, como a ideia de que seus filhos cometerão suicídio caso eles não permitam que eles transicionem e que seria culpa deles.

Estamos gritando sobre isso anos a fio, muitas vezes com a sensação de que ninguém nos escuta. Lésbicas, em particular, têm sido agressivamente silenciadas na mídia “LGBTQ” e também nas mídias tradicionais. Nós também fomos excluídas das poucas publicações lésbicas que tínhamos em nome da “inclusão”.

Recentemente J.K. Rowling veio a público apoiar lésbicas quando ela compartiklhou esse artigo que escrevi, chamado “Carta Anônima de uma Lésbica Aterrorizada”.

Em meio a quantidade surreal de agressões e ameaças de morte que ela recebeu por se posicionar em alguns tuítes, a autora da série Harry Potter não recuou. Pelo contrário, ela falou ainda mais alto. Ela usou a sua plataforma para conscientizar as pessoas sobre as questões em torno da autodeclaração e o abuso médico antiético contra jovens.

Uma jovem destransicionada, que também passou por uma dupla mastectomia na adolescência, respondeu a J.K. Rowling com gratidão por ela lançar luzes sobre o que está acontecendo e disse: “inúmeras pessoas trans mandam os destransicionados calarem a boca porque nós ‘não éramos trans de verdade’ e que ‘deveríamos ter pensado duas vezes’.” Um ano após a cirurgia, ela generosamente compartilhou sua história na internet – ela havia tentado suicídio no ano anterior porque não queria admitir que precisava destransicionar.

(Screenshot: no Twitter, “mulher de 25 anos destransicionada, após passar por mastectomia e histerectomia”, escreve: “Eu na verdade perdi quase TODOS os meus amigos trans, incluindo os que eram meus melhores amigos”.

Falando em censura, Charlie, que desistiu do processo de transição na casa dos 20, escreveu sobre a plataforma Reddit banir um fórum de DT/D [destransicionados e desistentes] no dia 10 de julho: “Treze mil e seiscentos homens e mulheres DT/D acabaram de ter sua comunidade arrancada para longe deles. Treze mil e seiscentas pessoas cujo único crime foi sugerir que, talvez, haja algo de errado na maneira como vemos gênero e transição, baseado nas nossas próprias experiências”.

(Print do Twitter de Charlie, bissexual que desistiu da transição)

Embora o fórum tenha sido restaurado, um usuário alertou: “não se enganem, vão logo deletar outra vez. Nós não temos mais a opção de ficar em silêncio.” Isso ocorreu logo após o Reddit também remover, no dia 29 de junho, um subreddit [ subcategoria do Reddit ] de Feminismo Radical, o “Gender Critical” [ crítico de gênero ], que é a “comunidade feminista mais ativa de todo o site“, com “quase sessenta e cinco mil usuários”.

Detrans youth twitter

Screenshot: Twitter, uma jovem destransicionada, uma das muitas que trabalham para garantir visibilidade

Uma das várias jovens destransionadas que lutam por visibilidade escreveu: “Quando eu estava no Reddit convencendo a mim mesma e a outras que eu com certeza tinha estruturas cerebrais masculinas que me levam à disforia inata meu terapeuta genial estava provavelmente naquela de ´Bem, ela tem cabelo curto e já parece um cara então claramente ela estará melhor como homem´e encerrou 🤡”

detrans youth twitter

Screenshot: jovem voz das destransicionadas, “Baby” cria espaço para conversarmos sobre destransição [ Tradução do tuíte: “Estou pronta para lidar com o fato de ser uma psicóloga destransicionada porque parece ser muito melhor agora; ´Eu acreditei em todas as besteiras que a sociedade me disse sobre como as mulheres deveriam ser e eu não era assim, então eu pensei que eu só podia ser um homem. Eu estava errada´”] 

É importante que adolescentes como Penny encontrem uma comunidade que visível e apoiadora – encontrar histórias que a mídia em geral e as redes sociais estão ativamente tentando censurar.

“Meus médicos não levaram em conta o meu autismo, questões com meu corpo e outros transtornos mentais quando permitiram que eu transicionasse. Meu terapeuta concorda que eu era muito nova na época” (Penny)

Nas fotos de Penny no baile da escola, ela e sua namorada parecem um jovem casal de pessoas do mesmo sexo como qualquer outro. O adorável e elegante nome que Penny escolheu para si na época – Spencer – se encaixava nela tão perfeitamente quanto o terno que ela vestia.

Só o tempo irá dizer como será a vida de Penny daqui em diante. Adolescentes como Penny irão, muitas vezes, chegar à conclusão de que estavam sofrendo com determinadas questões, como homofobia internalizada. É por isso que existe uma cumplicidade única entre as lésbicas e destransicionadas. 

Ambos os grupos foram desumanizados e silenciados pelo ativismo “LGBTQ” – e, notavelmente a perda da autonomia das lésbicas impactou profundamente a nossa habilidade de orientar a próxima geração.

“Eu tenho um grave desconforto por causa da aparência atual do meu corpo e tudo o que eu quero é consertar a bagunça em que eu me meti. Eu não sabia que eu podia ser uma menina e ser eu mesma sem ser julgada” (Penny)

Vozes de destransicionadas e desistentes estão abrindo caminho para a geração que virá. Cerca de um ano e meio atrás, elas começaram a se fazer mais visíveis, ocupando espaços dos quais jovens como Penny poderão um dia se beneficiar. O Pique Resilience Project foi criado por jovens lésbicas e bissexuais dos Estados Unidos que destransicionaram ou desistiram, assim como a Detransition Advocacy Network no Reino Unido.

Penny nos conta uma história que tem ficado mais e mais familiar: “No tempo que passei internada no hospital, percebi o meu erro. A transição não era a solução que eu precisava e não sanaria minhas questões de saúde mental. Eu nunca fui avaliada para questões corporais então assumimos que era disforia de gênero. Depois de voltar a usar meu nome feminino e contar para minha família, eu fiquei completamente perturbada com a minha cirurgia. Comecei a me sentir melhor com a minha identidade, ser mulher me pareceu mais confortável. No entanto, eu ainda tenho cicatrizes enormes no meu tórax e uma parte de mim se foi.”

Mulheres crescem imersas em um mundo que, incansavelmente, lhes impõe “regras” – um mundo obcecado em “atribuir gênero” a tudo: nomes, roupas, cortes de cabelo, cores, brinquedos, hobbies, empregos (e por aí vai). Para  adolescentes que lutam contra a atração que sentem por pessoas do mesmo sexo, uma das “normas” contra as quais nós lutamos é a heterossexualidade. É muito fácil para um jovem que não se adequa às ditas “normas” concluir que, na verdade, nasceu no “corpo errado”.

Usar a expressão “[pessoas] que não se adequam às ‘normas’” pode parecer só mais uma forma de dizer “GNC” (gender non conforming [ em não-conformidade de gênero]), mas minhas insistência em evitar abreviações como “GNC” é intencional. Abreviações tornam fácil perder de vista sobre o que estamos falando, e em muitos casos eles são sequestrados e enfiados sob termos “guarda-chuva”. Por exemplo, para a American Psychological Association e  outros têm diretrizes que empurram “TGNC” (transgênero & em não-conformidade de gênero) numa única categoria.

Ao usarmos abreviações, nem sempre vemos como estamos, talvez sem perceber, normalizando algo que deveríamos estar desconstruindo, como a ideia de que a conformidade é o padrão e que qualquer coisa fora dessa conformidade precisaria ser patologizada. 

Penny prossegue: “Eu destransicionei há cerca de 8 meses atrás e tenho vivido como uma mulher desde então. Me candidatei para uma cirurgia reconstrutiva dos seios através de transplantes de gordura e implantes para retomar a aparência que meu corpo um dia teve. Eu tenho um grave desconforto por causa da aparência atual do meu corpo e tudo o que eu quero é consertar a bagunça em que eu me meti. Eu não sabia que eu podia ser uma menina e ser eu mesma sem ser julgada. Através da destransição descobri que não tem um jeito certo de ser um gênero, que tudo bem ser um pouco diferente”.

A medicina, junto com as organizações “LGBTQ”, misturou intencionalmente diversos termos, sobretudo os mais básicos, “sexo” (biologia) e “gênero” (estereótipos esperados de acordo com o sexo).

Se tiver a chance de amadurecer, uma garota como Penny pode algum dia perceber que a caixinha de estereótipos não tem nada a ver com o sexo. Que a caixa de estereótipos foi feita pelo ser humano e é desconfortável para muitos de nós. Mas o que acontece quando o mundo tenta censurar as mulheres que poderiam ensinar isso a elas? Bem-vindos aos tempos atuais – onde o que eu escrevi, enquanto lésbica, de esquerda (tudo verdadeiro, você sabe), é considerado controverso.

Penny explica: “Eu fui diagnosticada com autismo no último verão, e meus médicos atuais pesquisaram a ligação entre autismo e identidade de gênero, descobrindo que isso pode ter sido a causa dos meus problemas. Eu entendo que sou responsável pelas minhas escolhas e que eu preciso me consertar. Mas meus médicos não levaram em conta meu autismo, questões corporais ou outros transtornos mentais ao permitir minha transição. Minha terapeuta concorda que eu era muito nova na época e que tomar uma decisão que muda tanto a nossa vida me trouxe desafios“.

Penny não teve culpa. Mas culpa a si mesma. Em algum momento ela irá perceber que foi vítima de propaganda, aliciamento, abuso infantil e agressão médica violenta. Que esse mesmo sistema que obriga a esperar até os 30 anos para vários procedimentos cirúrgicos, como histerectomias, decidiu coletivamente esquecer o motivo pelo qual essa longa espera existe. Médicos também sabem sobre a ligação entre autismo e questões de “identidade de gênero”, eles  simplesmente escolheram ignorar.

Penny finaliza sua carta explicando: “O seguro não quer cobrir uma cirurgia ´eletiva´, então a minha família terá que arcar do próprio bolso. Eu tenho uma quantia guardada para pagar a faculdade que será gasta com esta cirurgia, mas não será suficiente”.

Como chegamos até aqui? Uma menina de 16 anos, usando as economias destinadas à faculdade para fazer mais uma cirurgia pesada antes mesmo de chegar à idade adulta.

Minhas lembranças começam por volta dos 6 anos de idade; para muitas pessoas as primeiras lembranças começam bem antes. Até os 15 anos eu não tinha seios e não me deixavam assistir filmes para maiores de 13 anos até eu fazer 16 (e só em ocasiões especiais).

Aos 11, Penny se autodiagnosticou e os adultos “afirmaram” seu diagnóstico. Aos 13 ela foi medicalizada e aos 15 os “profissionais” de saúde decidiram que seria apropriado retirar as duas mamas de uma menina que só poderia  sentar em um restaurante e pedir uma cerveja dali a seis anos.

Penny Cunningham é corajosa de vir a público, principalmente devido às represálias que as destransicionadas sofrem. Muitos como ela irão sofrer em silêncio, sentindo que a culpa foi deles. Cabe a nós dizer a eles que eles não são os culpados. Cabe a nós explicar a eles por quê.

Numa idade em que é difícil fazer com que eles arrumem a própria cama ou estabeleçam uma diálogo, nossa tarefa é explicar coisas que esses jovens deveriam ter muitos anos para, lentamente, compreender.

No final de junho de 2020, Penny postou uma atualização: “Olá, pessoal! Estou me sentindo muito apoiada agora… Muito obrigada! Ver quanta gente se identifica com a minha experiência e  conhecer outras destransicionadas é tão chocante e eu só queria dizer que minha caixa de mensagens está sempre aberta. Ver a quantidade de pessoas que realmente se importam com o que está acontecendo comigo significa o mundo para mim… Estou feliz em anunciar que eu marquei a data da minha cirurgia!!! Eles ainda não sabem se o seguro irá cobrir o valor, mas estamos esperançosos. Mesmo se o seguro pagar, ainda temos que pagar a franquia, então o dinheiro arrecadado será bem utilizado. Dia 23 de julho é o dia da minha cirurgia de reconstrução e eu não poderia estar mais animada! Ter meu corpo de volta ao normal é um motivo de muita alegria para mim e eu estava tão infeliz desde  a mastectomia…”

Desde o momento que nascemos, nós somos colocados em caixas – papéis, regras e expectativas (gênero), atribuídas às pessoas com base no sexo delas. As expectativas parecem ser impossíveis de serem atingidas ou limitadoras. Não podemos esperar que uma criança processe o impacto dessas expectativas em si – muito menos desconstruir a força desse impacto – com tão pouca experiência de vida.

Minha esposa tem seios naturalmente pequenos (não é nem mesmo tamanho P) e eu sou M ou G, dependendo do sutiã. Quando éramos garotas, nós duas dávamos muita atenção para o tamanho do sutiã que usávamos. Quando nos tornamos adultas, percebemos que fomos influenciadas pelo mundo ao nosso redor para dar muita importância a algo tão banal.

Às vezes eu só queria ter a liberdade de não usar sutiã, como as amigas de peito pequeno. Às vezes essas minhas amigas devem se questionar se a grama é mais verde do meu lado – certa vez uma amiga minha me pediu para que eu fosse com ela a um cirurgião para que ele pudesse replicar meus seios nela. Nem pensar! – eu disse. Um amigo gay insistia que meus “peitos” não eram “de verdade”. Colocam muita pressão na gente sobre o tamanho dos seios, até mesmo na vida adulta. Colocam muita pressão em meninas e mulheres por causa do corpo e da aparência de maneira geral.

Isso tudo pode fazer com que você se sinta extremamente desconfortável com o seu corpo. Esse tipo de desconforto poderia acabar classificado como “disforia de seios” ou “disforia de corpo” ou até mesmo “disforia de gênero” hoje em dia. Existem poucas mulheres que nunca sentiram nenhum tipo de “disforia” de certa forma – imagine então tendo a opção de se autodiagnosticar na infância.

Agora, mais do que nunca, crianças têm sido exigidas a pensar muito mais sobre esse assunto. Elas estão sendo ensinadas que se sentir desconfortável pode significar que você deveria “consertar” seu corpo medicamente e cirurgicamente. É dito para elas que elas podem tomar decisões e dar “consentimento informado”para essas modificações corporais. Crianças estão sendo ensinadas que talvez elas tenham nascido no corpo errado.

O que deveríamos estar ensinando no lugar de tudo isso é que não existe forma errada de ser menina ou mulher. Que não existe “mulher errada”. Que igualar “ser menina” e “ser mulher” a estereótipos de “feminilidade” é extremamente sexista… e muitas vezes homofóbico (e sem contar que é chato). E que, às vezes, as coisas que você mais detesta sobre si mesmo quando você é jovem são as mesmas coisas que você mais ama em si mesmo quando cresce!

*Artigo editado para incluir mais relatos de destransicionados.

Julia Diana Robertson é uma autora premiada, jornalista e editora sênior no The Velvet Chronicle