Caros e caras,

 

profissionais de saúde mental sérios seguem angustiados com o que está acontecendo. Um deles, com quem dialogo há um tempo, nos enviou esta preciosa reflexão, que assina sob o pseudônimo de “Profeminista” (ele se coloca como um homem pró-feminismo). Agradeço demais pela coragem e espero que o texto inspire mais profissionais da área de saúde: médicos (as), psicólogos (as), psiquiatras, psicanalistas… Foi pelas mãos de alguns de vocês – médicos, especificamente – que chegamos a este ponto. Talvez seja pelas mãos de vocês, caso ousem pensar e agir, que sairemos do fundo deste poço.

Vale lembrar que, no Brasil, assim como em outros países, profissionais de psicologia sofrem penalidades de seu órgão de classe caso falem a verdade. Está vigente aqui a Resolução nº 1, do Conselho Federal de Psicologia, publicada no ano de 2018 e sobre a qual já entregamos textos pelo menos em duas ocasiões: nesta carta feita por psicólogos e psicólogas que nos apóiam e nesta análise. A censura imposta pelos órgãos de classe indica a continuidade da subserviência da psicologia à medicina em particular, à indústria do “gênero” em geral e ao negacionismo acadêmico do sexo promovido pelos adeptos da Teoria Queer.

Meninos, meninas e adultos estão, literalmente, morrendo com o silêncio dos profissionais de saúde. Para além dos suicídios e tentativas de suicídios, alguns veículos como o Post Millenium divulgaram dias atrás a morte de um garoto de 18 anos, ocorrida em 2016, num ambulatório de “identidade de gênero” que, como os do nosso país, adotaram a prática do bloqueio da puberdade. O estudo, que você pode conferir aqui, foi publicado sem alarde em 2016 e campanhas como a nossa já tinham esse dado faz tempo. Repare que os veículos de mídia grandes no Brasil e no mundo omitiram ao longo dos anos essa morte da população.

Uma breve explicação sobre o falecimento: os mesmos hormônios bloqueadores de puberdade fornecidos pelos ambulatórios de “identidade de gênero” brasileiros foram fornecidos a este adolescente e, por isso, seu pênis não se desenvolveu plenamente. Assim, médicos não conseguiriam fazer nele a castração cirúrgica tradicional realizada nos adultos e que consiste, basicamente, em inverter o pênis formando um buraco no qual o paciente, por toda a vida, precisa enfiar um dilatador para que o orifício não feche (o eufemismo para isso é “vaginoplastia”, termo enganoso uma vez que isso não é uma vagina). No lugar desse procedimento, os cirurgiões utilizaram pedaços do cólon do rapaz – algo ainda mais invasivo e arriscado.

Um rapaz de 18 anos morreu. Porque os adultos à sua volta mentiram que haveria algo de errado em seu corpo masculino, mentiram que ele poderia ser uma mulher, mentiram que seres humanos podem “transicionar” de sexo, mentiram que castrar seres humanos saudáveis seja qualquer coisa diferente de criminoso e cruel.

Abraços e até a próxima.

Eugênia Rodrigues

Jornalista

Porta-voz da campanha No Corpo Certo

P.S. IMPORTANTE – Registro feito em 10/5/23: infelizmente, este texto, publicado no dia 2 de maio, não foi enviado por e-mail. E, até o momento, não conseguimos resolver o problema junto ao Mailchimp. Pedimos compreensão e alertamos que mais textos continuarão a ser publicados. Programe-se para vez ou outra checar no nosso site se há novidades – especificamente, na seção “Blog”.

Psicólogo reflete sobre a castração masculina

 

Uma das aulas que mais me interessava, nos tempos de escola, era a de História. Eu costumava ficar fascinado com os grandes feitos do passado, como as pirâmides egípcias, a filosofia grega, as conquistas romanas, os mistérios medievais, a arte renascentista, enfim, com as referências que marcamos na memória e que nos orientam culturalmente.

Ao mesmo tempo, e tampouco sem estupor, eu lia sobre hábitos e costumes estranhos aos nossos olhos, fundados e originados sob valores e crenças há muito esquecidos, antiquíssimos e perdidos em suas compreensões e significados. Em meus tempos ingênuos e inocentes, eu era um adepto de visões iluministas, em que os argumentos racionais prevaleciam, e também de presunções positivistas, ao ter como certa a ideia de que o conhecimento era cumulativo e que vivíamos numa espécie de progresso contínuo a saberes mais amplos e abrangentes.

Um desses hábitos e costumes perdidos na História a que me refiro era a castração masculina, personificada na figura do eunuco. Os primeiros registros dessa prática remontam ao segundo milênio antes de Cristo, nos textos egípcios de execração ou proscrição, em que os eunucos são citados com desdém. O termo “eunuco” tem origem grega e pode significar tanto “guardiões do leito” (em referência a serem servos domésticos) como “aqueles de bem com a mente” (por não serem suscetíveis à libido). De qualquer forma, a presença de eunucos deu-se nas mais variadas culturas e tempos, pelas mais variadas razões: ora ser castrado era uma punição, ora um meio de se ascender socialmente, posto que em muitas cortes (como a bizantina, a otomana, a chinesa, dentre tantas) a eles era exclusivo o acesso. Mas não só como como servos, mas também como responsáveis pela alta burocracia imperial (como nos casos otomano e chinês). Suas posições podiam variar da extrema riqueza para a extrema pobreza, quando eram prostituídos. E eles também tiveram seu lugar como cantores, por exemplo na Itália, até o fim do século XIX, na figura dos castrati.

Agora, imaginemos que no passado essas cirurgias eram feitas com meios rudimentares de anestesia e assepsia, pelo menos aos nossos olhos de hoje, o que alimenta ainda mais nossas imaginações sobre os rituais e procedimentos envolvidos. Tudo isso parecia fruto de um passado de relações de poder ínvias, inóspitas, carcomidas e brutais, esquecidas pelo tempo, superadas pelo progresso, pelo respeito ao corpo, pela criação e elaboração dos conceitos de infância e adolescência, enfim, pela promoção do conceito de humano e por sua reverência.

Entretanto, a partir de lutas emancipatórias louváveis e mui honradas, que buscaram promover os direitos das mulheres, a partir de reflexões que identificavam estereótipos de sujeição/submissão a partir de características desse sexo biológico, os sofistas do momento praticaram aquilo que melhor sabem fazer, que é o uso engenhoso da oratória e da retórica, ao desconectar o estereótipo de sua matriz, cindindo dois conceitos inseparáveis, o de sexo e de gênero, posto que o último nasce do primeiro, num caso espantoso em que um predicado, cuja existência deve-se exclusivamente a um determinado sujeito, adquire existência conceitual própria e se torna sujeito, operação nunca imaginada pela insuspeita Simone de Beauvoir.

Neste mundo de oxímoros – que, sob o lema de combater a opressão, denuncia o que denomina performances de gênero atribuídas a mulheres e homens para imediatamente essencializar esses “gêneros” ao associá-los a almas encarnadas, que de repente nascem em corpos errados – a anestesia, a cirurgia, a assepsia e os fármacos possibilitam intervenções mais extremas sobre os corpos. Supostamente, para gerenciar as angústias desses processos mediante psicotrópicos.

São as mesmas razões do passado que promoveram os eunucos e que agora encontraram o seu meio-dia solar e, desta vez, assumindo os espaços conquistados pelas mulheres, invadindo seus esportes, banheiros, presídios, seus holofotes artísticos e políticos, tragédias não sem surpresa promovidas por uma psicanalista hegeliana (sacripanta!), Judith Butler, escola de pensamento cujo fundamento é negar a intuição, como quando afirma que um escravo tem o domínio sobre seu senhor, ou que a mulher sofre de uma ausência fálica. Mas, sem irmos muito longe, vemos sedizentes paladinos do feminismo querendo aproveitar-se de um momento histórico, assumindo a dianteira de uma rachadinha pseudo-vanguardista pois, como diz o ditado, a ocasião faz o ladrão, e exibições de artifícios discursivos elogiáveis em sua agudeza e execráveis politicamente, posto que conseguem convencer plateias de que um homem pode ser mulher e vice-versa, qualidade digna de quem vende a torre Eiffel para o primeiro desavisado.

Em suma, as reflexões acima nos levam para o mais terrível dos conceitos de Friedrich Nietzsche, o “eterno retorno do mesmo¨, posto que, para perpetuarmos uma tragédia, basta mudarmos as palavras, enfeitá-las, que qualquer absurdo torna-se uma sensatez.